4 dicas práticas de etiqueta e ética médica na telemedicina
A ética médica na telemedicina e no mundo digital é um tema essencial.
- Muitos médicos expressam receio de oferecer teleconsultas, pois acreditam que estão mais vulneráveis a processos no CRM ou na Justiça. Eles perdem, assim, uma oportunidade de melhorar seus resultados profissionais e financeiros.
- Alguns profissionais, em suas estratégias de publicidade e marketing digital, infringem normas do CFM por desconhecerem as regras ético-legais.
- Alguns comportamentos médicos, normais em consultas presenciais, podem ser mal-interpretados em consultas online.
Para que os profissionais se sintam mais seguros em suas ações no mundo digital, preparamos algumas dicas práticas de ética e etiqueta médica na telemedicina. Veja os temas abordados:
- Pense como um leigo em medicina na sua prática
- Utilize uma linguagem clara e realista com o paciente
- Entenda a responsabilidade civil do médico
- Etiqueta e postura para o médico nas teleconsultas
Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe este post do Saúde Digital até o final!
Pense como um leigo em medicina na sua prática
A ética médica é um conjunto de princípios, leis, regulamentos e expectativas de comportamento voltados para a prática da medicina.
Anteriormente, falamos sobre as releituras que a medicina digital traz para o Código de Ética Médica. Agora, é o momento de abordar algumas práticas que vão além dessa importante norma, mas que refletem na qualidade das suas consultas e na experiência do paciente.
Ao adotar determinados comportamentos no mundo digital, o médico pode deixar sua comunicação mais eficaz, impressionar seu público e ainda se resguardar de procedimentos disciplinares. Para isso, reflita sempre sobre a seguinte pergunta:
Como você avaliaria suas ações antes de ter iniciado o curso de medicina?
Na maioria das vezes, o seu paciente não conhece as bases do raciocínio clínico. Portanto, a menos que você explique claramente, ele não vai compreender o mecanismo da doença, o seu prognóstico ou os motivos das suas decisões terapêuticas.
Na Era do Google, o paciente tem mais ferramentas de acesso à informação, o que traz mais autonomia e a sensação de empoderamento. Na ausência de comunicação, ele vai buscar fontes que podem não trazer a informação mais precisa ou fazê-lo compreender o raciocínio clínico do profissional.
Por isso, tanto na telemedicina quanto nas consultas presenciais,
- explique as opções terapêuticas e quais são seus riscos e benefícios;
- demonstre qual é a base por trás das suas decisões clínicas;
- compartilhe a decisão com o paciente sempre que possível.
Quando informamos adequadamente nossos pacientes, eles se responsabilizam mais pelo próprio tratamento e criam um maior vínculo de confiança com o médico.
Por sua vez, em eventuais processos judiciais, lembre-se que quem decide é uma pessoa formada em Direito, não em medicina. Ela pode ser auxiliada por peritos médicos, mas não é obrigada a seguir seu parecer.
O princípio da dignidade da pessoa humana é uma das bases da Constituição Brasileira. A sua base é a filosofia humanística kantiana cujo lema é “o homem é um fim em si mesmo”. O que isso quer dizer?
- Nenhuma pessoa deve ser tratada como um meio para um fim. Isso se reflete na ética médica quando se estabelece que a medicina não é voltada para o comércio e a lucratividade do médico, mas para o cuidado da saúde das pessoas.
- Autodeterminação — cada pessoa tem o direito de alcançar a felicidade e a satisfação pessoal.
Contudo, a liberdade de cada pessoa não pode colocar em risco a autonomia das demais. Então, há determinadas normas que têm o objetivo de proteger a coletividade, não apenas o indivíduo.
Exemplificando, o profissional não pode explorar casos clínicos identificados e inserir imagens de “antes e depois” do tratamento, pois isso poderia incentivar a mercantilização da medicina. O interesse público prepondera sobre os interesses privados .
Pela jurisprudência brasileira, a responsabilidade do médico perante a lei não é de resultado, mas de “meio”. O que isso significa?
Como é impossível prever a resposta a um determinado tratamento, o médico somente é responsabilizado caso não tenha oferecido cuidados adequados aos pacientes. No entanto, essa não é a crença nem a expectativa que seu paciente tem!
Utilize uma linguagem clara e realista com o paciente
Um leigo pode crer que o médico tem o dever de entregar determinado resultado, como a reabilitação completa da saúde. Caso contrário, ele interpreta que houve um erro médico e busca algum comportamento ou alguma conduta sua para justificar a ausência de recuperação.
Da mesma forma, em um momento de vulnerabilidade emocional causada pela doença, ele espera que o médico se comprometa com um resultado ou dê uma resposta mais assertiva. Já a medicina trabalha no campo das possibilidades, isso é difícil de se compreender para o público leigo.
Se o resultado esperado não é alcançado, o paciente pode personalizar suas frustrações na figura do médico. É assim que muitos processos judiciais surgem.
No mundo digital, as informações são facilmente gravadas e armazenadas. Sem uma comunicação adequada e prudente, suas mensagens podem ser mal-interpretadas e serem usadas como prova judicial.
Assim, deixe claro que você oferece a garantia de cuidados adequados. Por isso, evite frases que podem ser interpretadas como garantias de resultados como:
- expressões assertivas, como “se você tomar esse medicamento, sua pressão vai abaixar”. Substitua por possibilidades como “pode abaixar”;
- generalizações, como “a telemedicina é equiparável ou superior às consultas presenciais”. É melhor dizer, “os estudos mostram que, em muitas situações, a telemedicina apresenta resultados muito bons”;
- comparações, “esse tratamento vai ser melhor do que o outro”.
Entenda a responsabilidade civil do médico
Você apenas pode ser responsabilizado se tiver cometido:
- Dolo — vontade de provocar aquele resultado;
- Omissão médica — deixar de praticar uma ação que era sua obrigação;
- Imprudência — deixar de empregar a cautela necessária em seus atos;
- Imperícia — praticar atos para os quais não estava habilitado ou não tinha competência técnica adequada.
Esses conceitos devem estar presentes nas definições da sua conduta! Por exemplo, as evidências têm mostrado que a telemedicina é uma ferramenta excelente para a gestão de casos crônicos compensados ou não-complicados.
No entanto, ainda não há conclusão científica a respeito de casos mais graves ou descompensados. Qualquer dano ao paciente, nesse contexto, pode ser lido como imprudência.
Uma prática mais segura é adotar uma conduta mais tradicional, marcando uma consulta presencial. A telemedicina, por sua vez, pode ser adotada como um complemento para trazer um cuidado mais próximo e frequente ou para incrementar a adesão ao tratamento.
Da mesma forma, se você anuncia na Internet uma especialidade que não tem e gera algum dano para algum paciente, poderá incorrer em imperícia.
Etiqueta e posturas para o médico nas teleconsultas
A experiência do paciente é determinada, em grande parte, pela qualidade. Por isso:
- Utilize equipamentos de boa qualidade, garanta uma boa iluminação e tenha um isolamento acústico eficiente;
- Fale olhando para os olhos do paciente;
- Tenha uma comunicação clara. Utilize frases mais curtas, pause a fala frequentemente e pergunte se o paciente tem alguma dúvida;
- Deixe claro que você oferece a garantia de cuidados adequados, não de resultados;
- Não deixe de falar sobre as limitações e os benefícios da telemedicina, assim como das outras condutas médicas adotadas. Deixe, quando possível, que ele assuma o protagonismo das decisões, depois de você educá-lo;
- Não demorar para responder ligações ou mensagens enviadas por texto pelos seus pacientes. Isso evita que eles se sintam desamparados e desassistidos.
Enfatizando, muitos processos éticos surgem de problemas de comunicação e de relação médico-paciente. As reações humanas têm um componente emocional muito forte.
Então, as decisões de processar um profissional geralmente estão relacionadas a uma insatisfação com a postura do médico, o que desencadeia uma emoção negativa.
Ao contrário, se o paciente tem uma boa experiência nas suas consultas, ele tenderá a interpretar suas condutas por um viés mais positivo.
Portanto, a Revolução Digital também afeta as consultas médicas, tanto presencialmente quanto pela telemedicina. Nesse sentido, é essencial saber como as normas de ética médica se transformam em comportamentos na sua prática.
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