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Falamos muito a respeito da mortalidade da Covid-19, que, em todo o mundo, matou mais de 6,2 milhões de pessoas. No Brasil, foram 665.000 óbitos até o momento. No entanto, precisamos conversar sobre outra perspectiva igualmente importante, — as consequências da doença na qualidade de vida dos sobreviventes. A cada dia, as pesquisas mostram sequelas significativas em pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2, mesmo aquelas que não tiveram doença sintomática ou tiveram apenas um quadro leve. A Covid-19 longa trará repercussões importantes para a saúde individual e coletiva nos próximos anos.

Aqui no blog do Saúde Digital, nós falamos constantemente sobre tecnologia e inovação. Isso é fundamental para compreender o futuro da medicina. No entanto, o avanço técnico é apenas uma parte da tarefa de inovar. Uma outra, tão essencial quanto, é fazer diagnóstico de quais demandas surgirão devido às mudanças na saúde dos indivíduos.

Com a Covid-19 longa surgirão novas necessidades de tecnologias e intervenções para ajudar as pessoas a recuperar a qualidade de vida. Nesse sentido, um empreendedor da medicina deve sempre buscar ter um impacto social relevante. Assim, pensará em soluções que melhoram o dia a dia das pessoas e das empresas. 

Por isso, hoje vamos falar sobre o que sabemos sobre os impactos da Covid-19 longa e quais perspectivas eles trazem para o mercado da saúde. Quer entender melhor o tema? Acompanhe o nosso post!

O que é a Covid longa e quais são as suas manifestações?

Em abril de 2016, foi publicada uma metanálise sobre as sequelas de longo prazo da Covid-19. Intitulada “Global Prevalence of Post COVID-19 Condition or Long COVID: A Meta-Analysis and Systematic Review”, ela mostrou uma prevalência de 43% em pessoas que testaram positivo para a doença. Preste bem atenção no indicador: pessoas que testaram positivo para a doença, isto abrange casos assintomáticos e leves.

No mundo, foram 523 milhões de casos notificados até 17 de maio de 2022. Isso significa que aproximadamente 225 milhões de pessoas podem ser afetadas pela Covid-19 longa. Se pensarmos que muitos casos não foram notificados, o número pode ser ainda maior.

E quais são essas sequelas mais frequentes?

  • Fadiga (23%);
  • Problemas de memória (14%);
  • Dispneia (13%);
  • Distúrbios do sono (11%);
  • Dores articulares (13%).

Os sintomas permanecem mesmo a longo prazo e tendem a ser percebidos mais frequentemente com o passar do tempo.

Em 30 dias, a prevalência da Covid-19 longa foi de 37%;

  • 60 dias, 25%;
  • 90 dias, 32%;
  • 120 dias, 49%. 

Covid-19 longa e saúde cardiovascular

Síndrome da taquicardia postural ortostática (POTS)

Uma das condições que trazem maior preocupação em relação às sequelas da Covid-19 é denominada como Síndrome da taquicardia postural ortostática (POTS). Ela é relativamente difícil de diagnosticar, mas pode desencadear sintomas que reduzem a qualidade de vida do indivíduo, como:

  • sensação de cabeça vazia;
  • confusão mental;
  • fadiga;
  • dores de cabeça;
  • visão borrada;
  • palpitações;
  • náuseas;
  • hipotensão postural.

Além disso, também pode alterar os níveis pressóricos dos pacientes, podendo desencadear tanto a hipotensão quanto a hipertensão.

Aumento do risco cardiovascular

Em fevereiro, a Nature Medicine publicou um estudo que mostrou que pessoas que tiveram Covid-19 sintomática apresentavam um maior risco de eventos cardiovasculares dentro de um ano. 

Já este estudo da Nature Reviews on Cardiology mostrou que a Covid-19 longa pode estar relacionada ao aumento de risco de outras complicações mais específicas, como:

  • Acidente vascular cerebral;
  • Infarto Agudo do Miocárdio;
  • Trombose venosa profunda;
  • Pericardite.

Esses riscos eram independentes de o indivíduo ter ou não uma doença prévia. Portanto, podem ocorrer mesmo em pessoas previamente hígidas, contrariando o senso comum de que apenas casos graves desenvolviam complicações crônicas. 

Qual o impacto da Covid-19 longa sobre o mercado da saúde?

Neste post, devido à temática do blog, vamos nos ater a reflexões sobre as implicações econômicas e tecnológicas futuras. Mas convidamos nossos colegas a escrever e refletir sobre outros aspectos, como a saúde mental e o bem-estar.

Produtividade econômica

A Covid-19 longa possivelmente vai impactar os indicadores de produtividade do futuro. A memória é uma função executiva fundamental para o trabalho. Portanto, se ela estiver diminuída, há uma maior propensão a erros.

Já os distúrbios do sono também diminuem a nossa capacidade cognitiva, trazendo dificuldades de concentração, de inibição e de tomada de decisão. Consequentemente, surgem refações e falhas que trazem custos operacionais.

Esses problemas comprometem os indicadores de performance produtiva das empresas. Além disso, a baixa performance individual faz com que o colaborador se sinta menos satisfeito, visto que a sensação de autoeficácia é um ponto fundamental para a saúde mental. Isso leva a um círculo vicioso em que a produtividade cai progressivamente.

As condições cardiovasculares, por sua vez, aumentam o risco de abstenção e de licenças longas do trabalho. 

Todos esses problemas serão sentidos no caixa das empresas. O mercado tende a buscar uma correção ágil para problemas produtivos. Assim, elas voltar seus investimentos de saúde em:

  • Apps de bem-estar e mindfulness;
  • Programas de reabilitação cognitiva;
  • Programas de saúde ocupacional, entre outras áreas. 

Sinistralidade dos planos de saúde

Se os estudos estiverem captando corretamente a realidade (o que é extremamente provável), podemos esperar que os gastos com saúde serão maiores nos próximos anos. Os planos de saúde serão impactados diretamente por isso, visto que terão uma carga maior de doenças cardiovasculares. Elas estão relacionadas a internações mais longas, a problemas de reabilitação mais longos e,portanto, maiores custos maiores por usuário. 

Uma das estratégias para mitigar esses riscos é o investimento em problemas de promoção da saúde e prevenção de doenças. Temos visto que eles são potencializados pela tecnologia, que ajuda a identificar pessoas com maior probabilidade de eventos negativos e a engajá-las em programas de cuidado com a saúde.

Nesse sentido, podem surgir oportunidades para:

  • programas de atividade física e de hábitos saudáveis;
  • aplicações de diagnóstico de saúde populacional;
  • teleconsultas e telemonitoramento de doenças crônicas.

Portanto, a Covid-19 longa certamente provocará mudanças na forma como o mercado de saúde enxerga a medicina. Ela possivelmente se tornará mais preventiva e mais proativa na promoção de saúde, especialmente em relação ao sistema cardiovascular. Por isso, não é surpresa que diversas soluções digitais de saúde e bem-estar venham sendo lançadas todos os dias. 

Você já pensou em alguma aplicação ou tecnologia que poderia melhorar esses resultados? Comente aqui no nosso post!

Autores

  • Lorenzo Tomé, médico, host do podcast Saúde Digital. CEO do Saúde Digital Ecossistema.
  • Ricardo Tadeu de Carvalho, médico, especializado em produção de conteúdo para a área da saúde. Colunista no Saúde Digital Ecossistema. CEO do RT Marketing Médico.