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Drones na medicina: vamos voar?

Por Augusto Gaidukas

Head de Conteúdo Científico no Saúde Digital. Estuda medicina e quer transfomá-la através do conhecimento e da tecnologia.

Drones ou VANTs (veículos aéreos não tripulados) são aeronaves que podem ser controladas remotamente sem necessidade de piloto. Os drones são muito empregados no meio militar, desde os anos 1950. Com o desenvolvimento de tecnologia aeroespacial e de software, eles chegam à atualidade acessíveis até ao cidadão comum. 

Aplicativos como o iFood e outras empresas de entrega já utilizam drones de forma experimental em locais que possuam infraestrutura e preparo para recebê-los, transformando a logística, diminuindo emissões de CO2 e acidentes de trânsito e reinventando o mercado de trabalho, tirando o motoboy da garupa e o colocando no controle remoto. 

Mas, como os drones podem nos ajudar na medicina? Há segurança para transporte de insumos e suprimentos médicos com VANTs? Quais as vantagens e desvantagens de se utilizar um veículo aéreo como solução para clínicas, laboratórios e hospitais? Descubra na newsletter desta semana do Saúde Digital.

Os drones médicos estão transformando a assistência médica, e eles são para todos

Transporte de materiais biológicos para exames, entrega de insumos laboratoriais, transporte de vacinas ou mesmo de órgãos, que hoje custosamente são levados por viaturas em terra — ou, quando muito, por helicópteros dos bombeiros ou da polícia em casos especiais de transplantes de urgência — encarecem totalmente o processo, representando não apenas aumento nos custos, mas inacessibilidade médica ao consumidor final, que é onerado duas vezes para ter acesso a diagnóstico e tratamento ao precisar pagar também pela logística.

Os drones, elétricos, teleguiados, isentos de impostos sobre seu uso, econômicos e ecologicamente responsáveis vieram para resolver esse problema. Ao invés de precisarmos de um motorista e de um carro que leve uma medula óssea para ser transplantada, por exemplo, um drone pode fazer o mesmo trabalho — a um custo de menos de 1 dólar por viagem. 

E as mudanças não param por aí. Recentemente, foi aprovado nos Estados Unidos o uso de drones robotizados (que não exigem controle humano), os quais guiam-se por geolocalização e sensores, o que automatiza o transporte e escala possibilidades de entrega, não necessitando de operador em terra, mas apenas uma espécie de controlador de voo que observe as rotas de vários drones da mesma empresa e os coordene em tempo real. 

Um emprego suficientemente interessante dos drones em saúde é no transporte de hemocomponentes e hemoderivados. Nem todos os serviços possuem hemonúcleo — na realidade, é uma seleta minoria que os possui –, onde armazenam-se crioprecipitados, concentrados de hemácias, plasma fresco congelado e outros hemocomponentes importantes para a hemoterapia. Por vezes, é preciso que uma única bolsa de sangue seja levada por dezenas de quilômetros, num desperdício irreal de recursos e de tempo, quando o mesmo trajeto poderia ser feito na metade do tempo a um quarto do custo com um drone. Grandes hemonúcleos e hemocentros, assim como pequenos serviços médicos que precisem de hemoterapia, em seus múltiplos empregos — da transfusão em sangramentos ao atendimento de doenças que cursem com distúrbios hematológicos — beneficiam-se total e imediatamente do uso de VANTs voltados para saúde. 

Lembre-se: a adoção de inovação e tecnologia sempre é um passivo ao serem implementadas, mas, no longo prazo, reduzem atritos e melhoram processos, aumentando o faturamento e diminuindo custos. 

Drones na medicina: vamos voar? – Levando desenvolvimento através da tecnologia

Com a extenuação da capacidade financeira das grandes economias (vide a estagnação de países que atingiram o ultra desenvolvimento, como a Suíça e países nórdicos), os investidores e empreendedores tem buscado locais em que a moeda não seja abundante, como os países desenvolvidos, e a empregado em locais improváveis: no mundo em desenvolvimento. Os recentes investimentos em países da África subsaariana e o florescimento de economias como a da Ruanda e da Nigéria ao crescimento de 10% a.a. demonstram o interesse e potencial dessas economias, e isso também se faz sentir no emprego de novas tecnologias em saúde nesses lugares. 

“A única coisa da qual os países subdesenvolvidos podem se beneficiar dos desenvolvidos é a tecnologia. Não de ajuda financeira, mas de tecnologia.” 

Robert Shiller, nobel de economia

Não obstante, a tecnologia em saúde já está chegando a esses lugares, e está não apenas barateando o custo operacional médico, mas criando valor na assistência a pacientes, além de solucionar problemas logísticos durante catástrofes, como a do coronavírus ou em locais que a medicina seja precária ou inexistente. Em Gana, no continente africano, a startup californiana Zipline está levando insumos médicos a hospitais afastados da capital, a locais nos quais as estradas são sofridas ou que sequer são acessíveis por via não-aérea.  

Mudando a lógica da economia com drones

O mercado de drones e VANTs movimenta mais de USD 127 bilhões todos os anos, e algumas empresas estão começando a basear seus modelos de negócios contando com drones. FedEx, Amazon (Prime Express) e UPS estão “descobrindo Eldorado” com o emprego de drones em suas entregas. 

Acelerados pela pandemia, em virtude dos lockdowns, os drones hoje não são mais OVNIs, mas equipamentos conhecidos e familiares aos habitantes da economia digital que o coronavírus ajudou a incubar. E eles estão não apenas nas cidades fazendo entregas: os drones ajudam na agricultura, na segurança de complexos industriais ou condominiais, além de gerar empregos em sua indústria, compreendida na manufatura mecatrônica.

O impacto econômico do emprego otimizado de drones (no que não seja transporte de pessoas, por exemplo) em distribuição e transporte estimado chega a um trilhão de dólares, que podem ser melhor empregados em outras áreas — de desenvolvimento científico à preservação da Amazônia através de créditos de carbono, por exemplo.

O setor médico não pode ficar alheio a isso.

Drones na medicina: vamos voar? – Para agora

O transporte de insumos e materiais por drone na saúde não são algo do amanhã, são algo do hoje, que poderia já estar em emprego desde ontem: os hospitais de campanha e covidários, muitas vezes precários e sem apoio técnico ou diagnóstico, poderiam ter beneficiado-se em muito com drones, autopilotados ou não, para levar amostras biológicas ou mesmo vacinas Brasil afora, poupando recursos financeiros e humanos (evitando exposições de profissionais de logística e apoio médico ao SARS-CoV 2), tornando muito mais fácil o combate à pandemia. 

Com o recrudescimento do número de casos novos e a necessidade de distribuição de vacinas importadas para todo o Brasil, algumas centenas de drones poderiam resolver o problema de milhares de carros, caminhões e outros veículos de transporte tradicionais, assim como poupar a saúde de muitos profissionais logísticos envolvidos em seu processo de distribuição.

A solução está pronta, basta adotá-la. 

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