O papel que a tecnologia desempenha na prevenção do suicídio é muito amplo e vai além de simplesmente incentivar as pessoas com ideação suicida a instalar um aplicativo de prevenção em seu telefone. Ela tem muitos usos diferentes quando se trata de prevenir o suicídio, desde sistemas de monitoramento instalados em indivíduos de alto risco até plataformas onde os usuários podem discutir anonimamente problemas que possam estar tendo, sem medo de repercussão ou julgamento.
Portanto, a tecnologia pode ser um grande trunfo na prevenção do suicídio, pois tem o potencial de ajudar os pacientes em diversas frentes, como:
- encontrar apoio entre pares;
- incentivar a procurar ajuda profissional;
- automonitorar a saúde mental e os sinais de alarme de suicídio.
Além disso, as ferramentas podem ser usadas para o monitoramento por profissionais de saúde, alertando-as quando os pacientes estão sob um risco iminente de autolesão.
Este artigo vai explorar a importância da tecnologia na prevenção do suicídio e alguns exemplos práticos de sua aplicação.
Entendendo a importância da tecnologia na prevenção do suicídio
Há muitas razões pelas quais a tecnologia pode ser uma ferramenta vital na prevenção do suicídio. Para começar, a tecnologia tem a capacidade de alcançar pessoas em todos os cantos do globo e em diferentes fases de suas vidas. Com isso em mente, pode ser utilizada como meio de sensibilização e informação aos pacientes.
Além disso, a tecnologia também pode auxiliar quem já tentou o suicídio com aplicativos que monitoram seu comportamento e notificam sua rede de suporte sobre mudanças de comportamento e emoções intensas. Por exemplo, um paciente pode cadastrar os contatos de seu médico, psicólogo e de membros da família para que eles recebam um alerta quando uma pessoa estiver em situações de risco de autolesão.
Outros aplicativos podem ajudar pessoas com ideação suicida a encontrar ajuda e apoio, fornecendo acesso imediato e direto aos serviços de emergência sem precisar passar por muitos trâmites burocráticos envolvidos em serviços teleorientações.
Apps de monitoramento de risco
A principal forma de a tecnologia ajudar aqueles que correm alto risco de suicídio é por meio de aplicativos de monitoramento e rastreadores que podem ser instalados em seu telefone.
Aplicativos de monitoramento e rastreadores podem enviar notificações para contatos designados se houver alguma mudança repentina de comportamento que possa ser indicativa de risco de suicídio. Por exemplo, esses aplicativos também podem enviar um alerta quando a pessoa com risco de suicídio estiver perto de determinados locais. Essa estratégia também pode ser usada por pacientes com histórico de autolesão a fim de ajudá-los a evitar retornar a lugares anteriores que possam trazer gatilhos para crises.
Os aplicativos de monitoramento também podem rastrear o telefone e o paradeiro de uma pessoa. Isso pode ser útil se alguém estiver sendo monitorado devido a um risco iminente de suicídio, pois uma intervenção presencial pode ser feita com maior prontidão, assim como um eventual resgate.
Aplicativos para ajudar pessoas em risco de suicídio
Há uma variedade de aplicativos diferentes que visam ajudar as pessoas que podem estar em risco de suicídio, como o aplicativo do CVV. Nele, a pessoa poderá conversar com um voluntário, que fará uma escuta pelo tempo que a pessoa precisar e sem julgamentos.
Nos Estados Unidos, a associação Legião dos Bons Samaritanos (envolvida na fundação do CVV brasileiro) já ofereceu um app chamado Samaritans Radar, o qual usava a inteligência artificial para monitorar tweets potencialmente relacionados à automutilação e oferecer ajuda para o usuário. Hoje em dia, eles têm um aplicativo de autoajuda que:
- Acompanhamento do humor — o usuário pode registrar como está se sentindo, analisar padrões em seu humor e obter sugestões de coisas que podem ajudar a superar maus momentos;
- Criação de um plano de segurança — o paciente pode fazer um plano de como se manter seguro em uma crise. O médico, inclusive, pode ajudar o paciente na construção desse instrumento;
- Explicação de técnicas validadas — o usuário conta com uma variedade de técnicas para ajudá-lo a desafiar e lidar com sentimentos difíceis;
- Acompanhamento de atividades úteis — o paciente recebe notificações de coisas que fazem ele se sentir melhor, assim como de sugestões de coisas novas para experimentar.
No Brasil, essas iniciativas ainda são incipientes. Essa é uma ótima oportunidade para que médicos proativos e empreendedores sociais criem soluções gratuitas para ajudar a população que sofre com doenças mentais. Se você se interessou por essa ideia, o que acha de criar um roadmap de um produto inspirado no Samaritan App?
LEIA TAMBÉM:
SAÚDE 5.0: SAIBA TUDO SOBRE ESSA REVOLUÇÃO DA MEDICINA
Plataformas para discussões anônimas sobre suicídio
Existem muitas plataformas online que permitem aos usuários discutir pensamentos e sentimentos sobre suicídio de forma anônima. Isso pode ser útil para aqueles que estão lutando com pensamentos suicidas e querem expressá-los sem julgamento ou medo de repercussões.
Há também vários fóruns online onde o paciente pode procurar e oferecer suporte a outras pessoas que estão enfrentando problemas semelhantes. Isso pode ser útil, pois fornece uma maneira de oferecer/receber conselhos ou insights que o ajudarão em suas próprias lutas.
Terapia de realidade virtual
A terapia de RV tem sido usada para ajudar a tratar pessoas com uma variedade de diferentes condições e problemas de saúde mental. Também tem sido usado como uma forma de terapia para aqueles que tentaram suicídio no passado.
Ela pode ser útil, pois permite que as pessoas criem um ambiente virtual seguro e controlado que podem explorar e usar para trabalhar seus pensamentos, sentimentos e experiências de uma maneira que possa ajudá-los a aceitar o passado. Da mesma forma, também ajudam as pessoas a criar um novo ambiente e o usem como um local seguro durante as crises.
Aplicativos de conferência de mensagens
Existem vários aplicativos que permitem que os usuários enviem interajam com profissionais de saúde mental por meio da telemedicina nas modalidades síncronas e assíncronas. Esses apps podem ser mais gerais ou se concentrar em um problema específico, como automutilação ou pensamentos suicidas.
Isso é importantíssimo, pois as crises de suicídio envolvem um sofrimento muito agudo. Então, qualquer obstáculo para a procura de ajuda (como a distância de um centro psiquiátrico) pode representar um grande prejuízo para o paciente.
A prontidão e praticidade da telemedicina permitem que o paciente procure ajuda assim que tiver um vislumbre de maior clareza. Normalmente, pessoas com histórico de automutilação relatam momentos de arrependimento ou de desistência antes de executarem o ato. A ajuda médica oportuna, portanto, poderia evitar a concretização de diversos casos.
A tecnologia tem o potencial de desempenhar um papel fundamental na prevenção do suicídio. Isso é particularmente real quando se trata de aplicativos que podem ser usados para fornecer suporte e assistência àqueles que estão lutando com pensamentos suicidas.
A tecnologia pode ser um grande trunfo, mas sua eficácia depende de diversos fatores, como o engajamento de médicos na criação e difusão de soluções digitais, além de garantir que ela seja atualizada e usada da melhor maneira possível.
LANÇAMENTOS RECENTES
PODCAST #163 – TÁ DE CLINICAGEM – HISTÓRIA E TRAJETÓRIA
PODCAST #162 – OS AVANÇOS E DESAFIOS DO ECOSSISTEMA BRASILEIRO DE STARTUPS