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Você já parou para pensar como você pode ser mais inovador? Conversamos com o doutor Sérgio Canabrava, que nos contou um pouco de sua trajetória e de como sempre é possível inovar cada vez mais em nossas vidas.

 Quando você está diante de um problema, no seu dia a dia, você considera sua própria capacidade para trazer soluções inovadoras?

A inovação nasce no momento em que nos descobrimos capazes de inovar. É necessário entender que o feito é melhor do que o perfeito, que ideias são validadas na prática, a partir de experimentação e execução. Tivemos a oportunidade de conversar com um médico que sempre se fez a pergunta “O que está faltando aqui?” e, ao achar a resposta, ele resolveu testar sua ideia e colocar em prática.

O doutor Sérgio Canabrava é oftalmologista e tem negócios voltados para área de saúde, Ele é um exímio empreendedor e vai nos contar um pouco da sua história e assim incentivar e estimular mais profissionais de saúde, mais médicos, mais estudantes de medicina a ousar na carreira.

 

Sérgio, seja bem-vindo, é um prazer tê-lo aqui conosco!

Eu que agradeço, é um prazer conversar com o Saúde Digital. Espero estar podendo compartilhar um pouco da nossa experiência aí pensando um pouquinho fora da caixa, durante a faculdade de Medicina e após a faculdade de Medicina para poder estar ajudando outros jovens médicos e profissionais da área de saúde para tentar empreender no Brasil, que a gente sabe que não é tão simples assim.

 

Então vamos começar, conta um pouco da sua formação e da sua área de atuação hoje em dia.

Lorenzo, eu me graduei na Universidade Federal de Minas Gerais, fiz residência na Santa Casa de Belo Horizonte em oftalmologia, me especializei em cirurgia de catarata, fiz algumas especializações fora do país em Madri e em Barcelona, também, principalmente, nessa área de catarata e hoje atuo como o preceptor no Departamento de catarata da Santa Casa de Belo Horizonte e como membro do Departamento de catarata do Centro Oftalmológico de Minas Gerais, também em Belo Horizonte.

 

O Sérgio foi meu contemporâneo de faculdade lá na UFMG e, mesmo enquanto estudante, ele já movimentava a turma dele e já era conhecido entre outras turmas. Eu, por exemplo, era de uma turma mais nova que ele, mas o nome dele já era bem falado na faculdade. Canabrava, por gentileza, fale um pouco do seu primeiro empreendimento: o PraiaMed.

 

Lorenzo, coloco até que foi antes do PraiaMed, porque durante a faculdade a gente vem do interior, a gente tem que se sustentar, a família não consegue estar nos proporcionando, por alguma dificuldade financeira, então eu já tive que organizar festas desde o segundo, terceiro período, então entrei nesse processo de organizador de festa, de participar do diretório acadêmico, ligas acadêmicas, mas também trabalhava como promoter e como organizador de festas nos tempos livres, que era uma forma que eu tinha para me sustentar ao logo da faculdade. No final da faculdade, tive essa ideia do PraiaMed, que é uma pergunta que sempre me acompanha, que é a pergunta que eu tenho: “O que está faltando?”. Todo lugar que eu chego eu sempre uso essa pergunta “O que está faltando nesse local?”. E na época do PraiaMed, o que faltava, isso foi lá pelos idos de 2002, 2003, não existia um encontro de praia de estudantes de Medicina. Existia o Intermed, existia o ECEM, e de uma viagem com colegas que a gente tinha uma banda, veio essa ideia. “Opa, já pensou em fazer um evento com estudantes de Medicina de todo Brasil, de várias faculdades?”. Daí, veio a ideia de fazer o PraiaMed, sempre com essa pergunta que me norteia, me direciona: “O que que tá faltando aqui?”.

 

O PraiaMed desenvolveu, você monetizou com PraiaMed, ele existe até hoje, mas, ao longo dessa trajetória, você teve uma sacada, você fez o que nós chamamos de “pivotar” o seu modelo de negócio, lançando mão de uma nova estratégia em relação ao PraiaMed. Conta para a gente a sua conduta, o que você fez.

 

A minha ideia sempre foi ser um profissional médico, eu sempre quis ser médico. Em primeiro lugar, sempre gostei de ajudar os pacientes, e depois que eu descobri a oftalmologia me apaixonei mais, sempre gostei de operar, de cirurgia. Então, chegou o momento que eu comecei a perceber que o evento não compartilhava, não tinha sinergia com a Medicina, né? Então, eu tive que fazer passos para sair do PraiaMed, porque o PraiaMed, que virou Circuito Super Praia, com o PraiaOdonto e o PraiaJurídica, era o que me sustentava, né? Eu não vim de família rica que me sustentava, então era ele que bancava minha a minha vida, então, eu fui saindo aos poucos, né?

Na hora que eu entrei na residência, entraram dois sócios para ajudar na organização para eu poder fazer a residência. E uma coisa bacana que eu gosto de falar para os jovens médicos: eu não tive desespero para fazer a residência, eu parei um ano depois de formado para poder cuidar da empresa, porque eu acreditava na empresa, acreditava que ela poderia crescer. Ao final da residência, já estava me profissionalizando cada vez mais, meu nome como oftalmologista estava crescendo no mercado, aí eu vi: opa, eu não posso continuar como organizador de evento, como dono de empresa de eventos, por mais que o Circuito Super Praia, o PraiaMed tenha virado uma das maiores empresas universitárias do Brasil. Ela já chegou a movimentar mais de 10 mil turistas universitários em um ano. Então, eu fui saindo também e fiz como se fosse um contrato de royalties, em que eu não sou mais organizador, não sou mais produtor, não participo em mais nada da organização do evento, mas os novos sócios me pagam como se fosse um pequeno royalty anual por ter criado, por ter desenvolvido o projeto, por ter feito, criado, desenvolvido e idealizado o PraiaMed.

 

Concordo com você, não há sinergismo entre essas duas atividades, então você tomou essa decisão e pelo visto foi uma decisão de sucesso. Após o PraiaMed, ou durante o PraiaMed, você teve um outro empreendimento, que também é um sucesso hoje em dia, o MedAula. Conta para gente um pouco do MedAula, da história, como você desenvolveu, o que estava faltando e que fez você se perguntar…o que você procurou responder?

 

Foi justamente essa mesma pergunta: o que faltava na época? Já existia um grande curso para prova de residência médica no mercado, era um curso presencial, na internet isso foi produzido em 2005/2006, a internet estava começando a bombar no Brasil, aumentando as bandas, etc, mas não existe um curso preparatório para prova de residência via internet. Daí, veio a ideia do MedAula, de facilitar a vida do estudante que estava mais no interior, que não queria ir em sala, não queria ficar em sala lotada, não tinha tempo para deslocar para esses locais presenciais. E aí veio o MedAula. O MedAula nos dois primeiros anos…

Eu gosto de falar um outro tópico, que eu sempre coloco, que é a correção de rota: os dois primeiros anos dele não foram positivos financeiramente, foram anos que a gente teve dificuldade, porque, como começou com uma Startup, não tinha investimento financeiro, não tinha um patrocinador por trás disso, a gente precisou colocar capital próprio e a gente não tinha um capital para produzir apostilas de qualidade, de material com impressão muito alto, como é o mercado da prova de residência.

Então, a gente viu uma nova oportunidade, que foram as provas de títulos. Então, as provas de título, que é a prova que você tem que fazer depois que você termina a residência médica. Daí, veio o OftalmoCurso. O OftalmoCurso foi um sucesso e veio CardioAula e RadioCurso, OrtopCurso, PsiqCurso, DermatoAula e a gente está hoje com, aproximadamente, 9 a 10 cursos para prova de título e voltamos depois que a empresa conseguiu capitalizar, crescer, conseguiu ter capital para produzir o material de qualidade e impresso e conteúdo científico igual dos concorrentes, a gente voltou sim para concorrer no mercado para prova de residência, há aproximadamente 3 ou 4 anos e vem observando um crescimento, que eu coloco, tanto pela parte científica, que graças a Deus o conteúdo e a equipe estão muito bons, mas também pelo crescimento no número de estudantes, jovens médicos, que procuram pelos cursos para entrar na residência médica.

 

O MedAula, na minha opinião, foi um exemplo clássico de startup. Você lança um curso voltado para estudantes de Medicina, mas naquele momento não tinha dinheiro, não conseguiu o investimento suficiente. Você faz um recorte, focou em uma área que tem mais domínio, que coincidiu com a sua época de residência, focou na oftalmologia, e da oftalmologia foram para outras especialidades, capitalizou, a aí retomou o seu propósito inicial do MedAula. É um exemplo clássico de uma Startup, de modo “searching” ou seja, procurando o melhor modelo de negócio, e acredito que ainda está em modo “searching”. Você deve estar sempre em busca de inovar o seu produto, de inovar o seu serviço para atender as demandas, que a cada dia estão diferentes, correto?

 

Perfeitamente! Sempre os profissionais que eu contrato para a empresa, sempre eu fico “na pressão”: “E aí, o que tem de novo na faculdade? O que está tendo de novo em nossa geração?”. Eu gosto de trabalhar sempre com profissionais que estão no meio da faculdade ou entrando na faculdade, porque eles estão sempre atualizados e para nós, médicos, estar com esse tipo de profissional mais jovem, a gente está sempre atualizado também. Então, tudo que está tendo de novo no mercado, eu estou sempre tentando, né, a gente não consegue abraçar tudo, mas tentando trazer para inovar para o MedAula. A gente tenta sempre, a cada ano, colocar uma coisa nova, algo novo no curso, seja nas apostilas, seja nas aulas, seja no aplicativo do curso, mas sempre estando isso, igual você está falando, o modo “searching” para melhorar a empresa e poder proporcionar um serviço melhor para o nosso cliente.

 

Isso talvez seja um dos ingredientes ou a causa do sucesso que o MedAula está tendo, dos frutos que você está colhendo agora. Canabrava, você também teve uma sacada, enquanto médico residente de oftalmologia, completamente inovadora no mercado brasileiro, no mercado da oftalmologia e no mercado mundial. Conta para gente o que você criou.

 

Lorenzo, isso foi, na verdade, na hora que eu já estava de preceptor no Departamento de Catarata, já tinha 1 ano/2 anos de preceptor, foi lá pelos idos de 2014, e estava começando a “bombar” e também ficar muito popular o uso de impressora 3D na área médica, principalmente, em Neurologia para reconstrução de crânio e de Ortopedia para construção de próteses ortopédicas com preço mais acessível para a população. E, parece engraçado, mas eu estava um dia assistindo o Fantástico, aí apareceu uma reportagem sobre a prótese para braço de criança, enquanto uma prótese custaria mais ou menos 10.000 reais ou dólares, sei lá, uma prótese produzida com impressora 3D ficava na casa de 1.000 reais ou 800 reais. E aí, veio essa ideia de novo, “O que que tá faltando?”.

O que está faltando neste momento é que não existe, ou pelo menos eu não conhecia, um instrumento oftalmológico intraocular criado com impressora 3D em nenhuma publicação mundial. Fui pesquisar, realmente não existia, fui no PubMed, fui nas bases de pesquisa ninguém tinha publicado. Eu comecei a pensar: “Opa, por que a gente não pode produzir aqui no Brasil o primeiro instrumento oftalmológico de impressora 3D para o mundo?”.

Tive essa ideia, pensei e isso seria bom, com certeza, para a oftalmologia brasileira, para a parte de catarata, mas também para o meu nome, né? Quando você consegue juntar as duas coisas: você consegue melhorar o seu nome perante seus colegas e consegue, ainda, ajudar a oftalmologia do seu estado, da sua região, da sua cidade ou do seu país. Eu não vejo que o jovem médico ou estudante tem que pensar só numa coisa mundial igual, graças a Deus, deu certo aí com o Anel de Canabrava, mas se você consegue fazer algo diferente ali na sua região, no seu consultório, na sua cidade, você está ajudando aquela comunidade, né? Você consegue melhorar o seu nome e ajudar a comunidade. Na minha visão, isso é uma coisa muito interessante.

Então, eu comecei a pesquisar, como eu trabalho no Ambulatório de casos complexos da Santa Casa, a gente sempre tem paciente lá com esse problema, que é da pupila pequena, e a gente tinha duas opções para pupila pequena: os antigos que a gente chama de retratores de íris, em que você fazia 4 incisões no olho do paciente ou você tinha um anel, que já tinha se desenvolvido por um russo, que era utilizado para substituir esses ganchos. Aí deu uma ideia: opa, e se eu desenvolver um anel com design diferente? Então, comecei a fazer pesquisas e encontrei no quinto desenho um design que seria diferente, que seria patenteável, diferente do anel que existia no mercado, e juntando com essa ideia de impressora 3D aí veio, graças a Deus, sucesso com prêmios em todos os congressos mais importantes, Congresso Europeu, Congresso Americano, Congresso Brasileiro, Congresso Brasileiro de Catarata. No total hoje, o anel já recebeu mais de 13 prêmios, entre nacionais e internacionais, palestras e congressos, todos os congressos que você imaginar da parte cirurgia de catarata e foi uma realização que eu coloco muito positiva tanto para mim, quanto para o paciente, quanto para oftalmologia, nós conseguimos casar toda essa cadeia.

 

Muito interessante, Canabrava. Você disse “fazer a diferença para sua cidade, para sua região” e me veio à mente aqui um outro conceito que eu acho que se aplica perfeitamente a essa história sua, que é o conceito de “cluster” ou arranjo produtivo local.

 

(“Cluster” ou Arranjo Produtivo Local, é onde estão empresas ou determinados tipos de negócio que produzem algo específico e que, em conjunto e com cooperação, a partir de um momento, ganham tanta capacidade de produção que eles passam a ser mais competitivos no mercado local, nacional e mundial).

 

Em Nova Serrana tem um Arranjo Produtivo Local de produzir sapato, no Sul, al um Arranjo Produtivo Local/cluster de móveis, e aqui em Belo Horizonte tem um cluster de oftalmologia, um Arranjo Produtivo Local de oftalmo, onde temos o Anel de Ferrara, que você pode explicar depois sobre ele, temos o device do Cláudio Trindade, que eu acho que se chama Extra Focus para presbiopia, que é uma lente intra-ocular, e também temos agora o Cana’s Ring. Então, você vê 3 devices saindo de oftalmologistas de Minas Gerais, de Belo Horizonte. Às vezes, não podemos tangenciar a influência que um teve em outro, mas isso é um fator motivador, isso não é só uma coincidência. O que você pensa?

 

Acho que sua colocação é perfeita. São 3 devices diferentes para áreas diferentes da oftalmologia. O Anel de Ferrara para ceratocone, o device do Extra Focus do Dr Cláudio Trindade é um anel para córneas irregulares, pacientes que têm problemas de regularidade em córnea, que também pode ajudar na presbiopia, e o meu para pacientes com pupila pequena. Então, são devices totalmente diferentes na oftalmologia, mas que foram desenvolvidos na mesma cidade, né? Em que os três devices foram desenvolvidos aqui. Então, acaba que um médico vai estimulando o outro. “Eu conheço lá o Dr Paulo, eu conheço Dr Sérgio, conheço Dr Cláudio… se desenvolveram isso, por que que eu não posso desenvolver também?”. Então, isso realmente, sua colocação é perfeita, porque acho que é muito difícil, numa mesma cidade, que não é uma cidade tão grande assim mundialmente,  mas que desenvolveu três instrumentos oftalmológicos que tem uma boa repercussão a nível mundial, em vários países e que estão sendo comercializados por multinacionais.

 

É um cluster de oftalmologia muito bem-sucedido em Belo Horizonte. Canabrava, sabemos que hoje criar um device para área de saúde é muito difícil no Brasil. Conta um pouco das dificuldades que você encontrou.

 

Lorenzo, acho que essa pergunta é ótima para a gente poder compartilhar a experiência com os colegas e eu dou muitas palestras em congresso até baseado nisso. Então, vou fazer um resumo para mostrar quais são os passos, né?

Porque, caso o leitor do Saúde Digital tenha interesse em criar alguma coisa, os passos são o seguinte: então, depois que você tem a ideia, você tem que ir no Comitê de Ética do seu hospital, no caso eu fui no Comitê de Ética da Santa Casa, expliquei que eu queria desenvolver um instrumento oftalmológico, que eu precisava fazer pesquisas com humanos etc. Depois que você é aprovado no Comitê de Ética do seu hospital, você tem que ir para a Plataforma Brasil, que é um órgão do Ministério da Saúde que regulamenta as pesquisas no Brasil. Isso tem uma reunião mensal, não sei de quanto tempo que recebem todos os estudos que vão ser realizados no Brasil. Então, a Plataforma Brasil te dá sua autorização para fazer essa pesquisa. Então, esse é o segundo passo, depois dessas autorizações, você tem que fazer o seu termo de livre consentimento para o seu paciente, esse termo de consentimento seu paciente tem que estar informado de como você vai fazer a pesquisa, quais são os possíveis benefícios para população, os possíveis danos para ele e ele autorizando, você faz a cirurgia.

Depois que você faz toda essa primeira parte burocrática, você vai para a parte técnica mesmo, cirúrgica, em que você tem que ter um mínimo de cirurgias, no meu caso que o estatístico colocou era um mínimo de 30 cirurgias, mas hoje ele já tem mais ou menos quase 80. Essas 30 cirurgias têm que ser todas catalogadas, filmadas, mostrando possíveis complicações, melhorias. E aí, depois, você faz um estudo científico, que é apresentado nos congressos, validado nos congressos.

E aí vai para o último passo, que é a publicação científica. Você tem que ter uma publicação com base indexada, no PubMed, por exemplo, para você fechar toda a cadeia científica, mostrando que o seu device ou seu instrumento é seguro para a população. Isso, eu que fiz sozinho, sem ajuda, demorou mais ou menos 3 anos, 3 anos e pouco. Então, toda essa cadeia, para você ver a dificuldade que é fazer isso no Brasil, que você não tem apoio, né? Depois que você tem essa, em paralelo eu tive que entrar também com a patente, se você apresentar em congresso, em qualquer coisa, tem que entrar com a patente. Você pode usar aqui no Brasil o INPI mesmo, que ele segue o PCT, que é um tratado mundial de patentes. E ao entrar no INPI, que está ligado ao PCT, você já está protegido.

Eu vou ser mais específico, que eu quero passar essa informação para poder estar ajudando os colegas, são 30 meses, o primeiro investimento que você faz não é um investimento muito alto. É na casa de 2 a 3 mil reais, mas você tem um período de 30 meses para definir se você vai continuar com sua patente ou não. Então, Lorenzo, esse período de 30 meses é um período interessante, porque depois dos 30 meses é que você tem que definir em quais países que você vai entrar com a sua patente. Aí que realmente o custo é muito alto, eu te falo que o custo gasto para entrar no Canabrava’s Ring, a gente entrou com ele na Europa, todos países da Europa, Estados Unidos e Brasil, foi um custo de mais ou menos 40 a 50 mil, só para patente. Só que a parte inicial, é a dica que eu deixo para os ouvintes, é de 2 a 3 mil reais. Você entrando com a patente no INPI ou nesse PCT, você vai ter 30 meses para saber se o projeto é viável, para procurar uma indústria para ver se a indústria vai querer investir no seu projeto e você não vai ter que desembolsar esses 40 a 50 mil reais. Então, essa é a parte da patente.

Da terceira via, como eu tinha colocado são três vias, é a via da negociação com a indústria. Então, hoje a indústria ela vai negociar, ela vai fazer tudo para você depois que você assinou o contrato, ela vai fazer a produção, fazer os testes, fazer a comercialização, é a parte final negociação com a indústria. Aí eu recomendo você ir no congresso da sua especialidade, no Congresso Mundial, no principal Congresso, e visitar os stands com as principais indústrias que tem sinergia com seu produto.

Então, esse foi o caminho e faltou um caminho ainda, o caminho da Anvisa. Aqui no Brasil e na Europa, em cada país, tem a sua Anvisa, e você entra, depois de todo esse estudo feito, você entra na Anvisa para pegar autorização mostrando todos esses estudos, tudo isso, que o seu produto ele tem uma segurança para seu paciente, para você ter a certificação da Anvisa para poder comercializá-lo. Então, hoje o Anel de Canabrava está na fase final, ele já passou por todo esse processo, está na fase final da Anvisa, a gente espera que até este ano termine essa validação na Anvisa e que seja mais um produto brasileiro, é raro produto brasileiro, você sabe disso, desenvolvido no Brasil por um médico brasileiro, você tá vendo o tanto de dificuldade. Então, eu fico muito satisfeito de ter conseguido estar ajudando, estar participando e elevando o nome da oftalmologia brasileira, em contrapartida, o meu também, para o desenvolvimento deste instrumento.

 

Muito válida sua explicação, porque, assim como você teve essa ideia, muitas outras pessoas podem ter ideias no seu dia a dia e não saber como fazer ou achar que é muito difícil colocá-las em prática. E, de fato, é muito difícil, mas se você correr atrás tem solução, tem caminho.

 

Canabrava, teve alguma empresa nesse processo, alguma consultoria que você pode indicar, alguém que te ajudou a talhar esses caminhos ou foi tudo na sozinho mesmo, você que foi desbravando?

 

Vou colocar que é meio a meio, toda a parte inicial foi eu me colocar na raça, né, diretamente no INPI, as pessoas no INPI te orientam, elas passam alguns exemplos de patentes, etc, e você vai seguindo aquelas orientações. A segunda fase, que foi a fase de entrar nas fases nacionais, quando você vai colocar patente mesmo, que é onde que você gasta o custo, nessa eu contratei, tem um escritório especializado para trabalhar com isso, que, claro, se algum leitor tiver interesse, depois eu posso passar o contato. Na parte de pesquisa foi também como se fosse na raça, mas com orientação do próprio hospital, né? O hospital na Comissão de Ética, falava: “Sérgio, agora você tem que fazer isso, agora você tem que ir lá na Plataforma Brasil”. Então, vamos colocar que foi um meio termo, eu não precisei contratar uma empresa específica para fazer esse processo, mas foi perguntando com orientação de pessoas que já tinham experiência em cada um desses setores.

 

Entendi, foi um misto. Como a gente pode te achar nas redes sociais, no Linkedin? Onde você está?

 

Esse sobrenome é engraçado porque eu não conheço outro Sérgio Canabrava. Então, você clicando no Instagram, Facebook e LinkedIn, “Sérgio Canabrava” vai aparecer, é bem tranquilo, tem essa associação com os pacientes: “Mas o senhor bebe demais?”. “Não, não bebo, mas é uma coisa que pelo menos é interessante, que o paciente grava, né, o colega grava, então é fácil de me acharem nas mídias sociais.

 

E, para finalizarmos, você imagina ou tem alguma ideia de como surgiu esse perfil, esse DNA do inovador em você e teria dicas para dar ao leitor do Saúde Digital, para eles também se tornarem empreendedores de sucesso?

 

 

O esporte me ajudou muito, eu pratiquei esporte na infância, adolescência inteira e te faz saber esperar, né? Te faz preparar durante 6 meses ou 4 meses para uma competição e isso te traz a competitividade e te faz saber esperar, você produzir, seja um trabalho, seja um device ou uma empresa.

O outro ponto: na infância eu já tinha, não sei se foi um perfil empreendedor, se foram meus pais que já me colocavam para trabalhar na loja que eles tinham de material de construção lá na cidade de Curvelo, mas chegava em Curvelo, chegava a época de lá tem uma Romaria, que a gente chama de São Geraldo, eu juntava com mais um ou dois amigos, a gente ia vender shup shup, geladinho, para ter um pouco de dinheiro. Depois, a gente foi ter uma locadora de Master System. Então, na infância, são esses dois itens que eu coloco como ajuda.

O outro ponto que eu gosto de colocar, que é o ponto da pivotagem, o que eu gosto de chamar de “correção de rota”. Não é sempre que você vai fazer um produto, alguma coisa, uma empresa, na primeira vez, que ela vai dar certo. Então, você tem que ver, tem que tentar fazer essa pivotagem, tentar fazer essa correção na rota para você conseguir ganhar o seu mercado.

Um outro ponto que eu deixo aí que é interessante que é: não fazer duas coisas ao mesmo tempo. Os momentos que eu tentei fazer mais de uma, duas coisas, ao mesmo tempo, eles me atrapalharam, atrapalharam nas empresas e não foram legais. E eu tenho empresas que foram insucesso, é importante colocar isso para o colega. Eu já tive uma empresa, isso foi em 2009, eu coloco que foi a primeira empresa de marcação de consultas pela internet, que se você procurar na internet ainda tem “doctor.com”, que ela foi prejuízo, não foi para frente, e eu soube o momento de “Opa, essa empresa estava começando a atrapalhar o MedAula” e eu tive um momento, depois de 2, 3 anos, de interromper essa empresa e realizar esse prejuízo.

Essa empresa eu não consegui fazer ela virar, por mais que eu acredite, e acreditava na época, que um produto de agendamento de consultas pela internet, que ele funcionaria, mas então são esses conceitos que eu poderia deixar: de esporte, de pensar um pouquinho também fora da casinha, não seguir o mesmo raciocínio, esse raciocínio também interessante, quando eu formei eu não quis fazer residência no primeiro ano, eu fui mexer na empresa, eu trabalhava como plantão só uma vez na semana para poder ter tempo para gerir empresa, essa gestão de tempo, se você quer empreender, se você quer fazer algo diferente na Medicina, não adianta você ficar no consultório de 7 da manhã às 7 horas da noite, plantão todo dia, você não vai conseguir ter tempo, você precisa estar ali, é o olho do dono que engorda o boi.

 

Muito bom, Canabrava. Dicas valiosíssimas que você deixa aqui, concordo com todas elas. Engraçado porque a gente olha para o seu perfil, para sua trajetória e foram muitas construções, foram algumas empresas, vários projetos e, no final, você vem falando que não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, que tem que ter foco. Muito interessante! Apesar de você já ter construído várias coisas, algumas não deram certo, mas você soube pôr foco na que você acreditava, na que tinha potencial, e hoje você consegue ter sucesso nesse empreendimento seu. Parabéns, dicas valiosíssimas que você compartilhou conosco!

 

Obrigado, Lorenzo! Foi um prazer participar do Saúde Digital e estou à disposição sempre para o que você precisar.