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2021 Inovações: Cardiologia

Por Augusto Gaidukas

Colunista Convidado. Estuda medicina e quer transfomá-la através do conhecimento e da tecnologia.

2021 Inovações: Cardiologia – A cardiologia, a “mãe da clínica”, e a especialidade mais tradicional da medicina, também conheceu saltos técnico-científicos incríveis desde o advento do computador e que podemos entender o maquinário elétrico do coração em tempo real e de forma perene. 

Do ECG ao holter de 24h disponíveis em SmartWatch, a ciência do coração hoje é uma engenharia biológica feita para manter o status cardiovascular de nossos pacientes monitorados e em nível ótimo, com métodos baratos e não invasivos. 

Descubra em mais um texto da série 2021 Inovações Médicas quais as tendências e inovações na cardiologia. 

2021 Inovações: Cardiologia – Estetoscópios digitais

Diferentemente de transdutores de ultrassom ou eletrodos de um holter, os novos estetoscópios digitais (3M™ Littmann® CORE e Thinklabs One) pretendem ser específicos ao que foram criados: realizar uma ausculta clara e eficaz. Pareados em caráter wireless a dispositivos externos, os novos estetoscópios digitais são capazes de realizar o traçado da onda sonora via aplicativo, sendo capazes de gravar o som e amplitude/frequência de onda, de forma a compartilhar com outros médicos ou com o próprio paciente sua ausculta cardíaca (um grande avanço para a objetividade do exame físico em prontuário).

Chegando a até 40x de amplificação sonora, um médico treinado em semiologia cardíaca é capaz de, sem distratores externos ou mesmo internos — como outros ruídos corpóreos, sejam pulmonares ou abdominais — realizar a ausculta eficaz e inalterada dos sopros mais discretos e que passariam despercebidos com um estetoscópio convencional. 

Enfermaria barulhenta ou pronto-socorro movimentado, os estetoscópios digitais possuem a vantagem de discriminar sons isoladamente, evitando que o examinador confunda-se na ausculta e garanta que aquilo que ele está ouvindo é, de fato, um murmúrio cardíaco normal ou patológico.

Sem contar na educação médica onde é possível ensinar para o estudante de medicina um som raro, de maneira On Demand.

2021 Inovações: Cardiologia – Prevendo infartos

O que você pensa de oferecer um holter 24h ao seu paciente sem cobrar nada dele? E se fosse possível, em pacientes de alto risco cardiovascular ou com angina, descobrirmos infartos quando estão ainda em seu início, diminuindo o tempo porta-balão desses doentes?

Os novos aplicativos para SmartWatch tornam possível a realização de um ECG sem a necessidade dos eletrodos e das clássicas doze derivações. Embora perca em acurácia, a possibilidade de identificarmos — seja de forma remota ou treinando o paciente para identificar ritmos na tela — arritmias, correntes de lesão (seja um padrão de Winter ou um franco supra de ST) ou até uma taquicardia ventricular antes que o paciente precise ficar sintomático o suficiente para buscar os serviços de saúde é algo que sabidamente é capaz de melhorar desfechos, especialmente em arritmologia e cardiologia intervencionista. 

Alguns softwares, como o da Apple, reconhecem automaticamente alguns ritmos (por exemplo, o da fibrilação atrial), o que, obviamente, pode tornar uma Fibriliação Atrial que seria de início desconhecido em conhecido, levando a uma intervenção precoce e mais precisa, prevenindo os desfechos cerebrovasculares deletérios dessa doença. Nos EUA, 18% dos ritmos de FA são diagnosticados apenas durante o episódio de AVC. Agora, imagine se pudéssemos diagnosticar esses 18% antes do evento cerebrovascular!! É a isso que a monitorização contínua de ritmo cardíaco se propõe. 

Alguns concernentes da segurança dos dados e da relevância clínica dos pacientes, entretanto, devem ser considerados. Caso você esteja monitorando o ritmo cardíaco do seu paciente de forma contínua, você precisa garantir a segurança dos dados e sua privacidade em prol do paciente, uma vez que, afinal, você estará registrando tais dados em prontuário, mesmo que seja digital. 

Para descobrir um pouco mais sobre a relação do médico com as ferramentas digitais, ouça nosso podcast #60 do Saúde Digital.

2021 Inovações: Cardiologia – Medicina regenerativa

A terapia celular e molecular não serve apenas para curar cânceres e melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças genéticas, congênitas ou não. Ela também é alvo de especialidades como a neurologia, a reumatologia, a ortopedia e muitas outras especialidades, como veremos nesta série ao longo do ano. Com a cardiologia, não é diferente.

O organismo humano é capaz de regenerar tecidos como pele, mucosa e outros diversos tipos de epitélio, mas tecidos de origem mesenquimal, tais como o ósseo e o cardíaco, não possuem tal propriedade. O tecido conjuntivo, como um todo, quando lesado, em vez de restituir-se, degenera em outros tipos de colágeno, levando à retração e fibrose. 

Com o uso de células-tronco (ou apenas de sinalizadores celulares), a medicina regenerativa cardiovascular, que está em experimentação desde os meados de 2006, começa a ter seus primeiros resultados in vivo há alguns anos, e é uma das grandes promessas aos portadores de insuficiência cardíaca congestiva e outras doenças sequelares do sistema cardiovascular.

Figura 1. Imagem esquemática da forma que células-tronco podem regenerar cardiomiócitos a partir de diferenciação nova. Disponível: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4918634/figure/F1/ 

Pacientes pós-infartados, com zonas cardíacas inativas ou discinéticas, portadores de cardiomiopatias hipertróficas ou dilatadas, cardiopatias estruturais, arritmias com focos ectópicos e quase todo tipo de anomalia estrutural cardíaca podem ser tratadas de forma ótima ou subótima com células-tronco. 

Pesquisadores da Mayo Clinic estão, no presente momento, estudando uma terapia regenerativa combinada para pacientes portadores de doença arterial coronariana. Através de bypasses coronarianos biológicos, com células-tronco e terapia gênica associados, esses enxertos prometem diminuir a aterosclerose coronariana e recuperar a perviedade do vaso sem graves efeitos adversos sistêmicos, uma vez que a terapia é alvo-específica.

Alguns modelos animais de insuficiência cardíaca, como em cavalos e cães, já atingiram regeneração total em protocolos experimentais, o que torna seu uso em fase III em humanos algo tangível. 

A medicina regenerativa cardíaca ainda está fora da realidade econômica e médica, em especial, da brasileira, em virtude das caras matrizes da qual necessita (células-tronco embrionárias ou mesenquimais pós-tratamento especial). Entretanto, aspirados de medula óssea pluripotente são uma luz para este campo, que deve florescer em muito nos próximos 10 anos, dada a velocidade do desenvolvimento da ciência médica. 

Referências:

Front Bioeng Biotechnol. 2020; 8: 972. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7438731/ 

Circulation. 2016 Jun 21; 133(25): 2618. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4918634/

Ann Transl Med. 2019 Sep; 7(17): 417. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6787392/

Trends Cardiovasc Med. 2020 Oct;30(7):442. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31706789/ 

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