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Burnout do médico e as tecnologias digitais

“Em casa de ferreiro, o espeto é de pau”. Quem nunca ouviu esse ditado? Bem, o fato é que, pelo menos no caso dos médicos, ele se enquadra direitinho. Isso porque muitos deles focam toda sua energia em cuidar da saúde dos outros e acabam esquecendo de cuidar de si mesmo. Um dos problemas de saúde mais notórios que isso gera entre esses profissionais é o burnout do médico, uma síndrome de esgotamento profissional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico.

Regina Chamon, médica hematologista, sentiu a necessidade de abordar o estresse do médico a partir da residência em hematologia realizada na Unicamp. Segundo ela, foi um período muito estressante, principalmente por ver muitas mortes acontecendo – ela assinava cerca de um atestado de óbito por dia. E foi por isso que ela optou por trabalhar com hemoterapia, em banco de sangue, e não em atendimento clínico.

No entanto, como ela gosta do contato com o paciente, começou a atuar com clínica médica, mas sentia que apenas a prescrição de medicamentos não era suficiente para o bem-estar de seus clientes. E dentro de suas práticas pessoais, ela já fazia yoga, meditação e outras terapias que a faziam se sentir bem. E foi por isso que ela decidiu realizar uma pós-graduação em medicina integrativa e uma especialização em meditação para profissionais da saúde.

 Ela é trainee do programa “Smart”, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que atua com o manejo do stress e da resiliência e busca informações sobre como essas práticas de bem-estar podem atuar na prevenção e na promoção da saúde, além de coordenar a área de medicina integrativa em dois centros oncológicos do estado de São Paulo.

Vale lembrar que a medicina integrativa é uma área médica com base científica, apesar de muitas vezes ser tratada por profissionais não gabaritados.

A tecnologia e o estresse crônico

De acordo com estudos, cerca de 70% dos pacientes que se consultam com algum especialista médico estão ali para tratar de algo relacionado ao estresse crônico, como dores crônicas, dor de cabeça, doenças cardiovasculares, etc. Isso porque o estresse crônico causa um maior processo de inflamação no organismo por conta de alterações bioquímicas importantes.

E, segundo a doutora Regina, esse estresse não precisa necessariamente ser causado por uma grande perda, desemprego, etc. Ele pode vir em pequenas doses ao longo do dia, como a pessoa estar no trânsito e perceber várias notificações no WhatsApp, ou estar em uma consulta médica e alguém ficar tentando ligar para ela, entre outros quesitos ligados a essa urgência tecnológica atual. 

Essas pequenas doses de estresse podem desequilibrar o equilíbrio entre o sistema nervoso simpático e parassimpático e trazer, após um certo tempo de acúmulo, sintomas como o aumento da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, da frequência respiratória, tensão muscular, entre outros. Já no aspecto emocional, pode haver irritabilidade, nervosismo, labilidade emocional, entre muitos outros sintomas.

A ligação entre o burnout do médico e as tecnologias

Esses sintomas físicos e emocionais citados acima, quando experimentados por um profissional de saúde, pode causar a indisponibilidade desse profissional e o esgotamento, podendo levar a casos de burnout do médico e depressão, entre outras doenças mentais. E um dos fatores para a grande incidência principalmente do burnout do médico é a questão da tecnologia, que acaba quebrando a barreira entre o pessoal e o profissional. O profissional precisa estar sempre pronto para atender a uma demanda ou para responder uma mensagem de um paciente, por exemplo.

Uma das características do burnout é a despersonalização, ou seja, a pessoa já não se reconhece mais com as características que tinha antes, como por exemplo, o prazer e a satisfação com seu trabalho. E um profissional desgastado, insatisfeito, não consegue prestar o seu serviço da forma que o paciente precisa. Assim, todas as pessoas, e também os médicos, precisam se cuidar antes de cuidar dos outros.

Como prevenir o burnout do médico

Não só o burnout do médico, mas outras doenças físicas e emocionais podem ser prevenidas com as mesmas ações simples que, inclusive, os médicos, paradoxalmente, aconselha a seus pacientes:

– Ter uma boa qualidade de sono

– Praticar exercícios físicos

– Alimentar-se corretamente

– Ter momentos de lazer

Esse último ponto é particularmente difícil para os médicos, uma vez que, estando com o celular em mãos e tendo acesso à internet, ele provavelmente vai trabalhar de alguma forma, seja respondendo a seus pacientes, pesquisando sobre algum assunto de sua área, entre outra atividades.

 A doutora Regina aconselha inserir no dia a dia práticas de relaxamento em determinados horários, e que essas práticas sejam “inegociáveis”, ou seja, algo que o médico precisa realizar de qualquer forma, para o bem de sua saúde. E essa prática deve ser de escolha da pessoa: um tempo para meditar, tirar um cochilo, praticar um esporte, ler um livro… E a dica é realmente agendar essa prática: ter um horário estipulado para isso e não negociá-lo.

Doutora Sangue Bom

Regina Chamon possui um projeto chamado Doutora Sangue Bom, que iniciou com sua presença nas redes sociais abordando doenças hematológicas de forma mais simplificada. Como sua carreira veio mudando, e hoje ela atua com o gerenciamento do estresse, a doutora Sangue Bom também mudou. Sua principal atuação é no Instagram (@drasanguebom), e ela aborda práticas de relaxamento e autocuidado com evidência científica, porém em uma linguagem simples. 

Quer saber mais sobre o tema e a doutora Sangue Bom? Acesse o podcast do Saúde Digital sobre Burnout do Médico e as Tecnologias Digitais!

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