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Existe um diagrama de inovação digital conhecido como “The Hype Cycle”. Ele foi desenvolvido pela consultoria empresarial Gartner, uma das mais influentes em todo o mundo. Nele, as transformações digitais são colocadas em um gráfico, no qual se apresenta horizonte de maturidade da tecnologia. Quanto mais à direita, elas estão mais próximas de fazerem parte da nossa realidade. Assim, podemos fazer um exercício de futurologia sobre o futuro da inovação médica.

O eixo horizontal começa com aquelas tecnologias e inovações que ainda não estão sendo implementadas na prática. Elas ainda estão em fase de idealização ou testes, por exemplo. Ao fim do eixo horizontal, estão aquelas que já vem sendo utilizadas na prática e tendo bons resultados. Com isso, é praticamente certo que farão parte do futuro da saúde.

No eixo vertical, por sua vez, estão o nível de expectativa que os pacientes, os médicos e os mercados têm em relação àquela inovação. Quanto mais alta ela está no gráfico, maior é a “ansiedade” e a “excitação” em relação àquela tecnologia. Com isso, você pode fazer uma análise do que é realmente algo muito desejado, mas longe da prática neste momento.

O Hype Cycle da inovação médica

O blog “The Medical Futurist” é uma das principais referências americanas sobre o futuro do mercado da saúde. O que acontece lá acaba sendo implementado aqui alguns meses ou anos depois. Portanto, ele é como o Saúde Digital, mas americano. Eles fizeram um Hype Cycle da inovação médica e vamos explicá-lo melhor neste post:

Tendo isso em vista, o Medical Futurist fez uma análise bem interessante. Inicialmente, eles agrupam inovações em três grupos de acordo com a posição no eixo horizontal:

  1. Expectativas crescentes;
  2. Já são, em algum nível, realidade na prática médica;
  3. Já progredindo como práticas consolidadas no futuro da saúde. 

Além disso, eles foram um passo além do tradicional. De acordo com o avanço dos investimentos e das pesquisas em determinada tecnologia, eles classificaram o que esperam delas nos próximos anos:

Progresso significativo em vista — são tecnologias que vêm avançando rapidamente nos últimos anos e, por isso, têm alto potencial de fazer parte do futuro da medicina nos próximos anos;

Progresso moderado em vista — são as tecnologias que, aparentemente, estão atingindo seus limites de desenvolvimento no momento, seja porque já estão perto do máximo na prática, seja devido a limitações tecnológicas/materiais. Ainda assim, permanecem promissoras;

Sem muito progresso em vista — são tecnologias que estão tendo dificuldade em se desenvolver ou que não estão funcionando muito bem na prática. 

Inovações médicas que estão fazendo um rápido progresso

  • Bioimpressão 3D — a impressão de órgãos e tecidos em 3D a partir de células do paciente ou de clones geneticamente modificados para reduzir as reações de enxerto contra hospedeiro;
  • Biomarcadores vocais — são tecnologias para identificação de sinais clínicos relevantes na voz do indivíduo, o que pode transformar o futuro da telemedicina;
  • Inteligência artificial em design de drogas — a partir de propriedades estruturais e eletrônicas das moléculas, a inteligência artificial prevê como elas interagirão com seus alvos a fim de elaborar drogas mais eficazes;
  • Testes laboratoriais domésticos — são os autotestes, como de Covid-19, a expectativa é que o método seja aprimorado para outras doenças;
  • Impressão 3D de fármacos — em vez de serem produzidos por reações químicas tradicionais e genéricas em massa, as quais demandam longos ciclos de purificação. As moléculas podem ser produzidas uma a uma em impressoras 3D, trazendo mais precisão e eficiência;
  • Inteligência artificial diagnóstica — softwares de auxílio à decisão médica que, com base nos sinais, sintomas e exames complementares, trazem informação sobre a probabilidade de o paciente estar com alguma condição médica;
  • Dispositivos portáteis de diagnóstico — são equipamentos de diagnóstico laboratorial ou de imagem que o médico pode colocar em seu consultório e, ainda, levar para outros ambientes da sua prática;
  • Realidade aumentada na cirurgia — ampliam a visualização de órgãos e tecidos, além de conferir imagens com maior profundidade em 3D, para melhorar a precisão cirúrgica;

Agora vejamos algumas soluções que já fazem parte da prática e ainda estão em avanços significativos:

  • Programas de saúde do trabalhador virtuais — são cada vez mais populares no Brasil e no mundo. Neles, há o enfoque preditivo e preventivo do adoecimento do trabalhador por meio de ferramentas de transformação digital para a avaliação de riscos individuais e coletivos. Com isso, há a redução do absenteísmo e das licenças médicas prolongadas, além de melhorar a saúde do colaborador;  
  • Planos de saúde digitais — também já estão em um nível de maturidade significativo. No Brasil, diversas iniciativas preveem planos com atendimento completamente virtual.

Inovações com progresso moderado em vista na medicina

À medida que uma inovação é implementada, ela é explorada aceleradamente até atingir um platô. Por isso, as tecnologias com estágio mais avançado de maturidade tendem a estagnar em relação ao seu avanço. 

Contudo, apesar de estarem em fase inicial de maturidade, algumas soluções também vêm mostrando apenas um avanço moderado, como:

  • Reconhecimento facial em hospitais;
  • Impressão 3D de próteses;
  • Robôs hospitalares;
  • Realidade aumentada na educação médica;
  • Plataformas de transporte médico;
  • 5G privado no mercado da saúde;
  • Drones médicos;
  • Apps de texto para voz;
  • Inteligência artificial na decisão médica;
  • Impressão 3D de equipamentos de saúde;
  • Equipamentos portáteis de ultrassonografia;
  • Robôs na reabilitação física;
  • Próteses baseadas em inteligência artificial.

Outras tecnologias já estão sendo empregadas na prática em algum nível, mas ainda não se consolidaram como parte do “futuro da saúde”. Um desenvolvimento moderado,portanto, é um sinal de alerta que elas podem não ser implementadas no futuro:

  • Exoesqueletos;
  • Soluções digitais para recrutamento e gerenciamento para clinical trials;
  • Computação em nuvem na saúde;
  • Apps de nutrição;
  • Soluções digitais de manejo de medicamentos;
  • Serviços de genômica personalizados;
  • Aplicação de smartwatches na medicina.

Por fim, há soluções que já fizeram bastante progresso para o futuro da medicina. Por isso, todas elas vêm apresentando apenas um desenvolvimento moderado recentemente:

  • Apps de saúde para smartphones;
  • Apps de saúde mental;
  • Fitness trackers;
  • Realidade virtual para manejo da dor.

Inovações médicas sem muito progresso em vista

Algumas soluções em estágio de maturidade não vêm trazendo os avanços esperados. Em alguns casos, como a computação quântica, isso se deve a barreiras tecnológicas. Ainda não encontramos hardwares e softwares eficientes para que elas façam parte do dia a dia. Por isso, estão restritas a ambientes de pesquisa básica. 

Em outros casos, a falta de desenvolvimento se deve a uma demanda baixa do mercado ou à baixa aceitação do público-alvo (médicos ou pacientes):

  • Realidade aumentada para a educação de pacientes;
  • Realidade virtual para treinamento de funcionários;
  • Robôs de companhia para pacientes;
  • Plataformas de cuidado remoto;
  • Plataformas de acompanhamento pessoal do histórico de saúde.

Por fim, há soluções potencialmente interessantes, mas que esbarram em barreiras externas e práticas. Portanto, por mais que sejam feitas descobertas, não há avanço, pois elas não se convertem em benefício clínico:

  • Nutrigenômica;
  • Pesquisa da longevidade;
  • Dispositivos de nutrição;
  • Testes de microbiomas.

Resumindo, o futuro da saúde é muito mais complexo do que pensamos. Diversos fatores influenciam a evolução de uma inovação digital. Algumas tecnologias já estão sendo implantadas e, por já fazerem parte do dia a dia, recebem menos atenção. Em outros casos, limitações externas impedem uma evolução mais ágil. Contudo nada impede que, a partir de alguma descoberta, apresentem um avanço rápido. Portanto, prever o futuro da saúde é sempre um exercício de probabilidades, não é a arte de fazer profecias.

Autores

  • Lorenzo Tomé, médico, host do podcast Saúde Digital. CEO do Saúde Digital Ecossistema.
  • Ricardo Tadeu de Carvalho, médico, especializado em produção de conteúdo para a área da saúde. Colunista no Saúde Digital Ecossistema. CEO do RT Marketing Médico.