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autor dr Lorenzo Tome evangelista da telemedicina

Com a pandemia, veio a ampliação da permissão para a prática da telemedicina. Foi necessária uma crise para desburocratizar algo que já venho dizendo há anos: a saúde digital é inevitável. Não era uma questão de “se”, mas de “quando”. Se estivéssemos preparados, nossa resposta às adversidades poderia ter sido muito melhor, como foi nos países com alto nível de maturidade digital da Ásia.

Porém não é hora de lamentar: hoje, quero convidar você, — médico —, a iniciar sua jornada pela telemedicina. Veja o que preparamos para você:

Meu objetivo é mostrar também o que precisa saber para implementaria e o que a telemedicina pode significar na prática profissional, no dia a dia do seu consultório ou serviço. Acompanhe!

O que é telemedicina e o que é telessaúde?

Para diferentes autores, Telessaúde é um conceito bastante amplo, pois:

  • diz respeito ao uso de tecnologias de informação e de comunicação em áreas do cuidado com a saúde, como a enfermagem, a nutrição, a fisioterapia e a fonoaudiologia;
  • refere-se à dimensão dos serviços médicos digitais
  • tem relação com a divulgação de dados sobre a saúde, no geral.

Telemedicina refere-se à competência privativa ou compartilhada de um médico com viés clínico; a saber:

  • determinação de um diagnóstico nosológico, partindo de critérios semiológicos, laboratoriais, psicopatológicos ou anatomopatológicos;
  • atestação e produção de laudos referentes à condição de saúde dos pacientes;
  • estabelecimento de um prognóstico individual partindo de um diagnóstico nosológico.

Portanto, a telemedicina é um dos eixos, isto é, faz parte do que se entende por “telessaúde”, — ou “e-saúde”.

webinar telemedicina

Os diferentes conceitos de Telemedicina

A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta uma definição mais holística de telemedicina, adotando-a como sinônimo de telessaúde. Isso significa que você pode se deparar com esses dois termos sendo utilizados intercambiavelmente.

Nesse contexto, ao analisar 104 artigos revisados por pares, a OMS considerou quatro elementos como básicos para a telemedicina (OMS, 2019):

  • Propósito: oferta de suporte clínico;
  • Missão: eliminar as barreiras de acesso;
  • Objetivo: melhorar os resultados em saúde;
  • Aplicação: envolve diversos tipos de tecnologias de informação e comunicação.

Do ponto de visto global, esse método traz benefícios para profissão médica, uma vez que acarreta:

  • a melhoria da cobertura dos serviços, tornando-os mais acessíveis financeiramente, mais efetivos e contínuos;
  • a maior oferta de commodities, equipamentos, recursos humanos e de instalações de saúde;
  • a geração de accountability para a gestão em saúde.
  • Quebra ou redução de barreiras geográficas dos serviços médicos
  • Descentralização e interiorização geográfica dos serviços especializados

Tanto no âmbito acadêmico, como no governamental, assim como no empresarial, é comum essa abordagem holística. Por isso, julgo essencial que você considere a possibilidade de inovar seus serviços por meio da incorporação de outros domínios da telessaúde.

Conceito Legal de Telemedicina

No Brasil, diante do período desafiador causado pela pandemia, a telemedicina vem sendo regida pela lei  Nº 13.989, DE 15 DE ABRIL DE 2020; a saber:

Art. 3º Entende-se por telemedicina, entre outros, o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde (BRASIL, 2020).

Nesse sentido, a telemedicina é uma atividade privativa dos médicos, abarcando também a prevenção de doenças e a promoção geral da saúde.

Pode-se dizer que esse artigo traz uma redação semelhante à dada pela Resolução N° 2.227, de 13 de dezembro de 2018, que autoriza a prática ampla de telemedicina, mas rapidamente foi revogada.

No que tange ao futuro das definições legais sobre a telemedicina, o Conselho Federal de Medicina (CFM), em suas resoluções, se ampara frequentemente nas discussões globais sobre o tema, em especial nas concepções da Assembleia Geral da Associação Médica Mundial (AMM).

Na última reunião dessa comunidade, a telemedicina foi definida como:

[…]a prática da medicina a distância, na qual intervenções, diagnósticos, terapias, decisões e recomendações de tratamento subsequentes são baseadas em dados do paciente, documentos e outras informações transmitidas por meio de sistemas de telecomunicações.

A telemedicina pode ocorrer entre um médico e um paciente ou entre dois ou mais médicos, incluindo outros profissionais de saúde (AMM, 1999).

Tomando como base esses dizeres, considero que a próxima regulamentação escrita pelo CFM trará um conceito intermediário entre essa e a definição legal atual.

CFM e telemedicina: antes, durante e depois da Pandemia de Covid-19

A regulamentação das teleconsultas e da telemedicina de uma forma mais ampla vinha sendo adiada pelo CFM. A Pandemia, porém, mudou esse cenário e forçou a adoção de uma autorização de emergência.

Regulamentação da telemedicina no pré-Pandemia

Antes do contexto pandêmico, ocasionado pela covid-19, a Resolução Nº 1.645 de 2002 da CFM era o principal regulamento da telemedicina no Brasil:

Art. 1º – Definir a Telemedicina como o exercício da Medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em Saúde. (CFM, 2002).

Nesse sentido, apenas as modalidades de teleassistência, teleconsultoria, telediagnóstico e telepesquisa estavam autorizadas a todos os médicos. Essas, por sua vez, eram subordinadas às seguintes diretrizes:

  • todas as normas éticas da medicina presencial se aplicam ao mundo digital;
  • os serviços de telemedicina devem ter a infraestrutura adequada, obedecendo às normas técnicas prescritas para a segurança dos danos, confidencialidade, privacidade e garantia do sigilo profissional;
  • médico à distância (emissor de laudo) só pode prestar suporte terapêutico em casos de urgência;
  • a responsabilidade profissional do atendimento será sempre do médico assistente, enquanto os demais respondem apenas pela proporção de eventual dano;
  • as empresas que prestam serviços de telemedicina devem estar registradas no respectivo CRM, estando a responsabilidade técnica sob guarda de um médico regularmente inscrito nesse conselho.

Na já citada Resolução nº 2107, o CFM regulamentou a prática da telerradiologia e da telemedicina nuclear, autorizando os especialistas da área e alguns portadores de certificados de atuação a emitirem laudos à distância dentro das seguintes regras:

  • a transmissão dos exames deve ser acompanhada dos dados clínicos do paciente, colhidos presencialmente pelo médico solicitante;
  • a autorização da transmissão de dados deve ser aceita pelo paciente por intermédio do termo de consentimento informado, livre e esclarecido;
  • a telerradiologia é vedada para procedimentos intervencionistas em diagnóstico por imagem.

A teleconsulta, por sua vez, permaneceu sem autorização legal devido à vedação do Código de Ética Médica em relação às prescrições médicas sem exame físico presencial do paciente:

Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. (CFM, 2018. p. 28)

Em 2020, o CFM enviou, em fevereiro de 2020, o Ofício Nº 1756/2020 para o Ministério da Saúde, um parecer positivo para autorização das modalidades de teleorientação, teleinterconsulta e telemonitoramento.

Regulamentação da telemedicina na Pandemia

O uso da telemedicina durante a pandemia foi ampliado pela já citada Lei N° 13.989, de 15 de abril de 2020. De forma geral, os Conselhos Regionais entenderam que a lei permitiria a prática de teleconsultas e outras modalidades de telemedicina anteriormente não autorizadas.

Para isso, o médico deve informar ao paciente as limitações ocasionadas pela falta de exame físico, sendo mantidas todas as normas éticas do CFM.

satisfação com remuneração por área da medicinaFoi instaurada uma comissão no CFM com o objetivo de elaborar uma resolução sobre o tema. Acredito que esse documento incorporará grande parte das discussões feitas nos últimos anos no cenário nacional e internacional.

Minha recomendação nesse cenário é que o médico não negligencie em hipótese alguma a segurança dos dados do paciente, além disso invista tempo para escolher e dominar um bom prontuário eletrônico e providencie sua assinatura digital certificada o quanto antes para emitir prescrições.

Pratique com prudência, perícia e sem negligência a telemedicina. Entretanto não fique protelando para iniciar seus atendimentos remotos, sob o risco de perder competitividade no mercado e ser considerado pelo seu paciente como “desatualizado”. 

Perspectivas da regulamentação da telemedicina no pós-Pandemia

Veja algumas posições defendidas por autoridades do CFM durante audiências públicas nos últimos meses:

  • O CFM defende a assinatura eletrônica com certificação digital para a prescrição médica, pois acredita que permitirá o rastreamento dos receituários e a redução do risco de fraudes.
  • O vice-presidente do Conselho expressou o entendimento de que as primeiras consultas devem ser presenciais. Caso tenham sido feitas virtualmente, um atendimento presencial deve ser marcado em um curto prazo.

Ainda não há uma posição do CFM sobre o valor dos serviços de telemedicina em comparação aos presenciais. No entanto, há quase certeza de que o CFM vedará que os serviços de saúde remunerem as teleconsultas em valor inferior às consultas presenciais.

Além disso, no Ofício CFM Nº/98, o órgão defendeu que a decisão pela telemedicina é um ato do médico. Nesse caso, as operadoras e planos de saúde não poderiam “impedir o acesso via telemedicina de pacientes a todos os médicos credenciados”.

Legislação da telemedicina: quais leis se aplicam?

As leis e regulamentações da telemedicina devem ser vistas dentro do contexto legal brasileiro mais amplo, pois outras leis têm aplicação direta à nossa prática.

Responsabilidade civil do médico

Em um artigo publicado na revista Consultor Jurídico, os advogados Luiz Conde e Abner Carvalho chamam a atenção para a responsabilidade do médico na esfera civil. Ainda que as normas do CFM sejam norteadores, esse profissional não pode esquecer de outras normas reguladoras.

Se o médico tiver causado algum prejuízo ao paciente devido aos seus atos por meio da telemedicinam, por exemplo, ele pode ter de indenizá-lo pelos danos morais e materiais.

Direito do Consumidor

Como profissionais liberais, somos prestadores de serviços. Cabe a nós provar que não causamos danos aos pacientes pela nossa conduta. Quer dizer que podemos ser responsabilizados se agirmos inadequadamente, tanto por ações intencionais quanto por negligência, imprudência ou imperícia.

Nesse sentido, nosso dever enquanto profissionais não é apenas a busca de um resultado específico, mas a aplicação de todos os cuidados necessários independentemente do contexto, estando em consonância com os regulamentos médicos.

Lei Geral de Proteção dos Dados

Quando lidamos com dados digitais sensíveis, como identidade, saúde, vida sexual e biometria, temos as mesmas responsabilidades de outras empresas. Todavia, o compartilhamento deve levar em consideração os princípios da ética profissional, como a utilidade e a não-maleficência.

A negligência ou o uso indevido no tratamento dos dados pode gerar consequências penais e civis. Recomendo fortemente que você procure um escritório de advocacia especializado em LGPD para consultoria e implementação de processos.

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Aplicações da telemedicina no SUS

Costumo dizer que o impacto da tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS) segue o Princípio de Pareto, em que mesmo pequenas mudanças geram grandes resultados. Afinal, parte das dificuldades para se promover um acesso equânime aos serviços de saúde especializados é devido às desigualdades geográficas e sociais do Brasil.

Diante desse contexto, o Ministério da Saúde criou um programa de telemedicina nomeado Telessaúde Brasil Redes. Essa ação busca implementar as seguintes modalidades:

  • teleconsultoria síncrona e assíncrona entre profissionais da assistência com a finalidade de esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos e ações de saúde;
  • teleducação para estudantes e profissionais de saúde;
  • telediagnóstico pela emissão de laudos de exames complementares.

Telemedicina no SUS: Case da Unicamp

Há algum tempo, a Dra. Mariana Zorrón me procurou para conseguir indicações de tecnologias adequadas para a implementação da telemedicina no Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (UNICAMP). Prontamente, indiquei algumas iniciativas com maior potencial de inovação. Diante desta lista, a universidade e a equipe da colega Dra. Mariana optaram pela plataforma Privio.

No podcast do Saúde Digital, pude conversar com a Dra. Mariana Zorrón e Renato Bom, da plataforma Prívio, para entender essa parceria. Nesse bate-papo, tive a satisfação de perceber que, apesar de difícil, a implementação da telemedicina no SUS está, de fato, trazendo benefícios à população.

Em uma fala, a professora deu um relato interessante sobre a inclusão dessa iniciativa: “A telemedicina é algo que veio para ficar. Eu acho que ela tem várias vantagens. Ela consegue, sim, aproximar médico e paciente. A experiência que estamos tendo é que os pacientes aceitam bem.” (ZORRÓN, 2020). Esse espírito de inovação é essencial para desenvolvermos novas tecnologias no país.

Alguns programas públicos também apostam nas potencialidades da telemedicina; a saber:

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Quais as modalidades da Telemedicina?

Na prática do dia a dia, você se deparará com várias acepções referentes à aplicação da telemedicina; a saber:

Teleassistência

São serviços em que o paciente pode se informar ou ter seus sintomas monitorados à distância. Com base nos dados coletados, o profissional da saúde pode realizar ações, como ligar para os familiares, encaminhar equipes médicas para o local e dar orientações não intervencionistas que reduzem os riscos do paciente até a chegada da equipe no local;

Teleinterconsulta

Intercâmbio de informações e opiniões clínicas entre um médico assistente (responsável pelo cuidado do paciente) e um médico consultor;

Teleconsultoria

Semelhante à anterior, mas abrange as trocas de informações com profissionais em outros níveis da saúde;

Teleorientação

Avaliação do estado clínico do paciente a fim de direcioná-lo para a assistência mais adequada. Não estabelece nenhuma conduta terapêutica ou diagnóstica complementar;

Teleducação

Atividades de ensino de disciplinas de competência exclusivamente médica, incluindo as práticas de educação em saúde direcionadas ao paciente;

Telemonitoramento

Monitoramento ou vigilância de parâmetros de saúde por orientação de médicos;

Telediagnóstico

Elaboração de pareceres técnicos para exames de laboratório, de anatomopatologia, de radioimagem ou de traçado gráfico;

Teleconsulta

Troca de informações clínicas, laboratoriais ou de imagem entre um médico e um paciente a fim de estabelecer um diagnóstico nosológico, prescrever condutas complementares ou terapêuticas, assim como emitir documentos médicos;

Telecirurgia

São as cirurgias robóticas controladas pelo médico à distância, conectado aos instrumentos pela internet.

Quem pode exercer a Telemedicina?

Atualmente, regulada pela Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020, a telemedicina é adotada em um sentido mais restrito, limitando-se ao exercício da medicina. Portanto, somente médicos com diploma válido em território nacional podem praticá-la. Há que se ressaltar que o médico que exerce tal atividade responderá por todas as suas ações, da mesma forma que responde na atividade médica presencial ou off-line.

A prática da telemedicina deverá ser (assim eu espero) regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), de maneira mais abrangente que a atual regulamentação. As demais modalidades de telessaúde serão regulamentadas pelos respectivos conselhos de classe.

Ainda, é importante lembrar que permanecem válidas as normas específicas do CFM. Embora todos os médicos possam realizar a prática da telemedicina, o Art. 4º da Resolução CFM  nº 2107 de 25 de setembro de 2014 restringe o telediagnóstico de imagem ao médico especialista em radiologia e diagnóstico de imagem. Ou seja, é preciso possuir o RQE para produzir e assinar os laudos à distância.

Essa limitação também abrange os exames específicos da medicina nuclear, os quais devem ser laudados por um portador do título de especialista em medicina nuclear, devidamente registrado com RQE no CRM, além da autorização da entidade de energia nuclear. Os portadores de Certificado de Atuação em mamografia e densitometria óssea, por sua vez, somente podem laudar exames de imagem da sua respectiva área.

Preparando-se para a telemedicina baseada em evidências

A teleducação e a telepesquisa, duas modalidades da telemedicina, oferecem oportunidades para que o médico se atualize de forma prática e ágil. Confira como conhecer principais evidências atualizadas!

UpToDate: telemedicina

O UpToDate é uma das principais ferramentas de atualização médica, tendo surgido no início da década de 1990. Nessa época, a saúde digital parecia algo distante. Felizmente, dois médicos empreendedores foram visionários e perceberam que a atualização médica se tornaria muito mais simples e efetiva com a Internet. 

No artigo “Telemedicina para adultos” disponível no UpToDate, você terá dicas para acompanhar pacientes e conduzir uma consulta. Veja algumas dicas disponíveis:

  • Cuide da clareza da sua fala —  “falar devagar e fazer pausas com frequência a fim de amenizar eventuais atrasos de transmissão”;
  • É preciso ter um plano B — “Criar um plano de contingência para a ocorrência de emergências médicas durante a consulta”;
  • Preparar o paciente para a teleconsulta pode evitar diversos problemas — “em algumas situações, o médico ou algum membro da sua equipe pode contatar previamente o paciente para ajudá-lo na configuração da plataforma de teleconsulta”;
  • A teleconsulta não pode ser estática — “o médico deve pedir para que o paciente se reposicione em relação à câmera para melhorar a qualidade da inspeção visual do paciente”. 

Além disso, nos artigos específicos de diversas condições médicas, há também diretrizes e evidências focadas. Veja alguns exemplos de aplicações da telemedicina sugeridas no UpToDate:

No post “UpToDate e telemedicina: como usar no seu consultório médico online?”, você poderá ver um breve resumo das recomendações feitas nos artigos do UpToDate. 

Pubmed: telemedicina

Todo médico em busca de evidências clínicas acaba passando pelo PubMed, não é mesmo? No entanto, nem sempre esse processo é produtivo, visto que é preciso ler diversos resumos até chegar ao artigo ideal para seus objetivos.

Por esse motivo, o Saúde Digital analisou as principais revisões sistemáticas e metanálises publicadas recentemente sobre a satisfação dos pacientes e a eficácia do tratamento em relação à telemedicina.

Em geral, a maioria dos estudos mostra que há benefícios em utilizar teleconsultas e telemonitoramentos no plano de cuidado com os pacientes. A maioria dos pacientes relata uma satisfação maior ou igual com essas ferramentas. Como você pode ver nesse post do blog, os pacientes relataram uma melhor experiência por diferentes motivos:

  • melhores resultados (20%);
  • modalidade [de comunicação] preferida (10%);
  • facilidade de uso (9%), baixo custo (8%);
  • melhoria na comunicação (8%);
  • redução do tempo de viagem (7%).

O motivo líder de satisfação com a telemedicina é, em 1º lugar isolado, os melhores resultados. Neste post, você poderá conferir mais de 20 outros estudos que apontam as vantagens e as limitações da telemedicina em diversas aplicações.

Plataformas de cursos médicos online

O médico pode utilizar a teleducação para se atualizar na prática profissional de forma geral, mas também pode aproveitá-la para agregar novas competências para praticar a telemedicina.

Atualmente, há algumas plataformas de ensino médico já consagradas como o UNA-SUS e o Albert Einstein Online. No entanto, elas são focadas nas práticas de vigilância e assistência — agregando pouco conhecimento prático para o médico no dia a dia. Isso não significa que elas sejam ruins, mas sim que não são úteis para o profissional que quer aprimorar suas teleconsultas e inovar com a saúde digital.

Uma plataforma mais recente de cursos gratuitos é o SD Conecta, que apresenta a vantagem de ser também uma comunidade exclusiva para médicos. Além de se atualizar e se preparar para a telemedicina, você pode melhorar seu networking e discutir os temas mais inovadores da telemedicina com seus colegas médicos.

Artigos telemedicina: as revisões sistemáticas atuais

A telemedicina é uma ferramenta de inovação no atendimento médico que tem ganhado espaço nos dias atuais. Apesar de haver grande resistência em relação a essa nova modalidade, ela tem demonstrado resultados promissores.

Alguns estudos analisaram aspectos da telemedicina, levantando os benefícios de sua inovação a partir de revisões sistemáticas.

An overview of the effect of telehealth on mortality: A systematic review of meta-analyses 

Ainda existe grande resistência à implementação da telemedicina por alguns médicos tradicionalistas. Em geral, eles relatam grande preocupação com a queda da qualidade dos atendimentos. Contudo, frequentemente, percebe-se um receio real de perda da reserva de mercado.

Afinal, diversos estudos vêm sendo realizados e demonstraram um desfecho diferente na qualidade dos cuidados com os pacientes. Por exemplo, uma revisão sistemática publicada em 2019 analisou 24 meta análises com foco em mortalidade, qualidade de vida e morbidade.

Os estudos investigaram áreas da cardiologia, pneumologia, neurologia, obstetrícia e medicina intensiva. A metodologia seguiu todos aqueles critérios exigidos em checklists de medicina baseada em evidências, como formulação de uma pergunta PICO e avaliação da qualidade dos estudos incluídos de acordo com as recomendações da Cochrane.

Na área da cardiologia, houve uma redução da mortalidade e taxa de hospitalização em pacientes com insuficiência cardíaca que foram acompanhados pela telemedicina.

No campo da neurologia, houve redução do tempo de início de tratamento e tempo de internação hospitalar de pacientes com suspeita de AVC para pacientes que foram telemonitorados.

Na pneumologia, houve redução significativa das visitas ao pronto-socorro e taxas de admissão hospitalar para aqueles que passaram pelo telemonitoramento.

Essas evidências demonstram que a telemedicina não promove queda da qualidade do cuidado. Pelo contrário, pode trazer um melhor acompanhamento e cuidado com pacientes em cada especialidade.

Portanto, a telemedicina é uma inovação promissora, tem demonstrado resultados positivos a partir da sua implementação e pode ser de grande ajuda no acompanhamento à distância dos pacientes.

Economic evaluation of E-health interventions compared with alternative treatments in older persons’ care: A systematic review

Nesse estudo, foram avaliados o acesso para pessoas idosas e o desfecho de redução da necessidade de cuidadores nas casas dos pacientes. Concluiu-se que houve melhorias dos custos ao associar tecnologias da telemedicina ao método de cuidado, a partir do telemonitoramento, além da redução da dependência desses pacientes.

Telemedicina em artigos: A Systematic Review and Meta-Analysis of Telemonitoring Interventions on Severe COPD Exacerbations.

Aqui, foi avaliada a eficácia do telemonitoramento na prevenção de complicações da DPOC com foco em quadros graves. Os resultados demonstraram que houve redução de visitas desnecessárias ao pronto-socorro, mas não houve impacto nas hospitalizações.

The clinical effectiveness of telehealth: A systematic review of meta-analyses from 2010 to 2019

Nesse estudo, foi avaliada a eficácia clínica dos serviços de telessaúde a partir de indicadores das especialidades de cardiologia, dermatologia, endocrinologia e alguns outros. Concluiu-se que a telessaúde pode ser equiparável ou, até mesmo, mais eficaz que métodos de cuidados usuais (presenciais).

Telemedicina em artigos: A Systematic Review and Meta-Analysis of Telemonitoring Interventions on Severe COPD Exacerbations.

Nesse estudo, foi avaliado o efeito da telemonitoração doméstica não-invasiva no tratamento de pacientes que possuem insuficiência cardíaca recentemente descompensada. Ele concluiu que a estimativa do efeito combinado das intervenções foi neutra.

Digital Tools for the Self-Assessment of Visual Acuity: A Systematic Review

Foram analisadas, nesse estudo, as ferramentas digitais para avaliar remotamente a função visual. Os autores sugerem que existe equivalência clínica entre os métodos digitais e o presencias.

Vantagens da Telemedicina para os médicos

As vantagens da telemedicina não se limitam ao campo financeiro, podendo também trazer benefícios à experiência do médico e de seus pacientes.

Uma pesquisa sobre a remuneração e a satisfação dos médicos brasileiros no ano de 2019, realizada pela Medscape, mostrou um elevado grau de insatisfação profissional, motivado por diversos fatores; a saber:

  • engessamento da carreira;
  • excesso de trabalho;
  • remuneração incompatível;
  • pouco tempo disponível para a família e o lazer;
  • acentuada burocracia para o exercício profissional.

Quanto aos pacientes, uma pesquisa de satisfação mostrou que frequentemente reclamam sobre:

  • má comunicação;
  • problemas para agendamento;
  • qualidade baixa do serviço;
  • tempo de espera e atrasos no atendimento.

Levando em conta a experiência de outros países, a telemedicina poderia impactar positivamente nesses pontos.

Em 2019, a American Medical Association (AMA) conduziu uma extensa pesquisa com médicos generalistas e especialistas sobre a adoção da telemedicina. Abaixo, exponho alguns resultados interessantes para análise:

A telemedicina melhora a sua capacidade de cuidar melhor dos pacientes? Para essa pergunta, entre 29% a 40% dos médicos de todas as idades responderam que perceberam claras vantagens. Por sua vez, 46% a 53% identificaram, pelo menos, algum benefício.

Quais foram os motivos mais importantes para a adoção da tecnologia? Para essa questão, no que se tange às razões pessoais, os entrevistados apontaram os motivos mais importantes para a adoção dessa prática; a saber:

  • a melhora da eficiência;
  • o aumento da segurança do paciente;
  • o aprimoramento da capacidade de diagnóstico;
  • a otimização da adesão dos pacientes;
  • a redução do burnout;
  • o oferecimento de mais conveniências aos usuários;
  • a melhora da relação médico-paciente.

Já entre as questões externas, relevantes para a tomada de decisão, os participantes indicaram alguns fatores decisivos para a adoção da telemedicina; a saber:

  • o entendimento da sua eficiência igual ou superior aos cuidados tradicionais;
  • a segurança e a eficácia asseguradas por publicações revisadas por pares;
  • a intuitividade e a navegabilidade das tecnologias utilizadas;
  • a universalização desse padrão de cuidados;
  • a aprovação pela Food and Drug Administration (FDA).

Quantas ferramentas de telemedicina você utiliza no dia a dia? Quanto a essa questão, os respondentes expuseram que, em média, utilizavam de 2 a 3 ferramentas digitais. Para eles, um dos principais intuitos era proporcionar um melhor atendimento a grupos específicos de pessoas, como pacientes crônicos, jovens e pessoas em estado de vulnerabilidade socioeconômica.

Aumento da receita

Defendo que, após vários meses da atual situação pandêmica, um grande número de pessoas reconhecerá as vantagens da telemedicina. Quero dizer que, a partir de agora, um cenário parece inevitável: uma quantidade considerável de pacientes em potencial dará preferência aos profissionais que adotarem essa prática.

Pela minha experiência, reconheço que médicos são aficionados por dados, — verdadeiros data geeks. Concordando com isso, trago aqui alguns números divulgados por exímios players do mercado.

A McKinsey, uma das maiores consultorias empresariais dos Estados Unidos, estima que a telemedicina é uma tendência para o mercado pós-pandêmico. Isso porque, ao longo do distanciamento social:

  • a proporção de usuários de teleconsultas subiu de 11% (2019) para 46%;
  • o número de usuários dos provedores de telemedicina aumentou entre 50 a 175 vezes;
  • a porcentagem de interessados na telemedicina aumentou de 11% para 76%;
  • a satisfação dos pacientes foi alta em 74% dos entrevistados.

Ademais, de acordo com essa consultoria, há uma estimativa de que o mercado da telemedicina movimente 250 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos.

A Deloitte, outra grande empresa de consultoria, estima que, no Brasil, as teleconsultas poderiam aumentar as receitas médicas em até 15 bilhões de dólares ao ano.

Já a CBInsights, neste relatório, estima que as startups de telemedicina arrecadaram mais de US$2.6 bilhões em acordos com governos e empresas privadas entre fevereiro e abril de 2020.

Popularidade da telemedicina na população brasileira

De acordo com a Revista Exame, a startup Conexa — uma plataforma que oferece serviços de telemedicina para operadores de saúde, hospitais e clínicas — realizou 1 milhão de consultas à distância no primeiro semestre de 2020.

Da mesma maneira, nesse período, o serviço de telemedicina da Amil realizou 380 mil atendimentos. Desses, 98% tiveram seus encaminhamentos resolvidos integralmente por meio do atendimento virtual.

Já a Prevent Senior, outra operadora de saúde, realizou 500 mil atendimentos, especialmente por meio da modalidade do telemonitoramento, que tem enfoque em doentes crônicos e pacientes pós-operatórios.

Maior versatilidade do mercado de trabalho

As empresas vêm percebendo as vantagens do oferecimento de serviços de telemedicina para seus pacientes, uma vez que essa oferta é muito valorizada pelos usuários.

De acordo com a Revista Pediatrics, a aplicação da telemedicina pode reduzir os custos do absenteísmo no trabalho, assim como o afastamento de talentos por motivos médicos. Por isso, algumas startups brasileiras, como a Salú, vem dando enfoque no segmento de saúde ocupacional, buscando um modelo de cuidado integrado com os níveis de atenção primária e secundária digitais.

Outras startups, como a hCentrix, a Neomed e a Sharecare, focam, respectivamente em soluções como:

  • regulação, redução de riscos e cuidados populacionais para planos de saúde;
  • marketplaces para laudos à distância;
  • saúde personalizada.

Nessa perspectiva, a implementação da telemedicina não se restringe ao alcance de mais pacientes por meio das teleconsultas, mas também inclui o contato com uma diversidade cada vez maior de áreas de atuação que contribuem para sua satisfação pessoal e profissional.

Mais produtividade

No que tange à produtividade, em várias especialidades, inclusive na emergência,  as consultas se tornam mais objetivas e curtas, não necessariamente impactando na qualidade e eficácia do cuidado. Esse tempo recuperado é o resultado da eliminação de algumas ineficiências por meio do(a):

  • preenchimento automático de documentos médicos por meio das plataformas digitais;
  • escrita mais ágil do prontuário;
  • menor risco de atrasos de pacientes devido a problemas no trânsito e outros imprevistos;
  • lembrete automático próximo ao horário da consulta.

Muitas plataformas de telemedicina também fazem a gestão de agendas com a produção de relatórios de produtividade. Desse modo, você poderá conhecer os gargalos do seu consultório digital e melhorar os processos de trabalho.

Outro ponto que destaco é que, de acordo com pesquisas, nos centros urbanos, as pessoas gastam cerca de 2 horas diárias no transporte, tempo esse que poderia ser empregado de maneira produtiva.

As teleconsultas, por sua vez, podem ser conduzidas em sua casa, fazendo com que você disponha de mais horários livres para atender pacientes, ou mesmo mais tempo para cada uma dessas pessoas.

podcasts de saúde digital

Benefícios da Telemedicina para pacientes

Resolubilidade

Na profissão médica, sempre existe algum paciente que parece nunca melhorar. Quem de nós nunca teve aquela sensação de que não estamos avançando com uma pessoa? Para casos como esse, a tecnologia pode ajudar.

As barreiras físicas impedem consultas mais frequentes, que poderiam fortalecer a relação médico-paciente. Os obstáculos para a comunicação entre esses dois atores para a resolução de dúvidas gerais podem aumentar as chances de abandono do tratamento.

Nesse contexto, uma resistência comum das pessoas à telemedicina é o receio de que ela comprometeria a relação médico-paciente ao supostamente desumanizar o cuidado.

Entretanto, alguns trabalhos mostraram que essa tecnologia tem, na verdade, resultados positivos para a experiência comunicativa do paciente, uma vez que oferece uma diversidade de pontos de contato e novas soluções, instigando-o a cuidar de si próprio. Veja alguns indicadores referentes à aplicação da telemedicina:

Nesta revisão de diversas revisões sistemáticas publicadas na Cochrane, você tem acesso a outras evidências dos benefícios da telemedicina para os pacientes.

Essas vantagens têm impactos diretos sobre o seu arrecadamento, visto que:

  • a resolubilidade traz o marketing espontâneo (famoso boca a boca), algo muito comum para nossa profissão, em que os pacientes costumam procurar médicos indicados por pessoas de confiança;
  • o preço das consultas pode se elevar, já que os pacientes terão uma melhor percepção do valor agregado a eles pelo seu atendimento.

Ademais, a própria satisfação pessoal é maior quando sentimos que nosso trabalho é efetivo para a saúde dos nossos pacientes.

Confiabilidade

A telemedicina pressupõe uma série de recursos que trazem mais segurança para as consultas, tanto para o médico quanto para o paciente; a saber:

Prontuário eletrônico — Embora você possa registrar as informações sobre seu paciente à mão, na nuvem, o prontuário médico será armazenado em servidores de empresas que empregam as melhores tecnologias de segurança digital. Além disso, esse documento ficará disponível para acesso em outros dispositivos conectados à internet, como smartphones ou tablets.

Ferramenta de videoconferência — Para atender seu paciente, você poderá fazer uso de ferramentas de videoconferência ou de plataforma de teleconsulta com protocolos de criptografia digital, que impedirão o acesso de pessoas mal intencionadas.

Certificação — Você poderá emitir certificados A1, A3 ou A4, contendo a devida assinatura eletrônica. O site do CFM apresenta uma lista com certificadoras confiáveis.

Termo de Consentimento Livre — Ao marcar uma consulta o paciente assina um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que contém todas as informações sobre as limitações das teleconsultas.

Transparência

Nas consultas particulares, o preço será informado antes ou no início da consulta. Ao final do procedimento, o paciente receberá um sumário da teleconsulta com data, hora, tecnologias utilizadas, entre outras informações.

Acesso a especialistas

O Brasil integra uma rede de mais de 500 mil médicos, mas há uma concentração deles nos centros urbanos. Devido às proporções continentais do nosso país, essa disparidade provoca dificuldades de acesso, tanto pela rede pública quanto pela rede privada.

De acordo com o estudo Demografia Médica, do CFM e da Universidade de São Paulo (USP) (2020), em média, 50% dos especialistas estão atuando no Sudeste do país, ao passo que apenas 5% atuam no Norte. De maneira geral, em todas as regiões, os profissionais da saúde estão concentrados em cidades de grande e médio porte, o que indica uma grande desigualdade de acesso à saúde especializada.

Nesse contexto, em um cenário de atenção primária, as teleinterconsultas poderiam evitar encaminhamentos prescindíveis a centros de emergência. Esta pesquisa mostrou, por exemplo, que 89,7% das lesões maxilofaciais foram resolvidas na atenção primária por meio de teleconsultas.

De modo geral, a telemedicina também impactou positivamente alguns indicadores de produtividade e qualidade do atendimento:

  • o intervalo entre o início dos sintomas e o tratamento médico foi de 78,6 dias nas consultas presenciais, enquanto, nas digitais, 2,3;
  • o tempo médio requerido de trabalho, tanto para médicos quanto para pacientes, foi de 16 horas em atendimentos à distância, ao passo que, fisicamente, foi de 32 horas.

Ademais, este estudo, do Brazilian Journal of Health Review, mostra que as vantagens da resolubilidade também são percebidas na saúde pública e coletiva.

Menores custos com a telemedicina

Um maior equilíbrio entre a oferta de profissionais e a demanda dos pacientes faz com os preços das teleconsultas sejam mais acessíveis. No entanto, isso não impacta negativamente a receita do médico, visto que ele terá mais produtividade e menos horários vagos pela falta de procura.

Além disso, os gastos com a manutenção diária do consultório e deslocamento tendem a reduzir. O consultório em um coworking passa a ser uma possibilidade real. Caso queira saber mais sobre como reduzir os custos fixos do seu consultório, veja o que a startup Livance tem feito escutando este episódio do podcast Saúde Digital 

Também, os pacientes e as empresas empregadoras ganham com a redução dos custos com transporte e diminuição das horas produtivas de trabalho perdidas.

Telemedicina na transformação dos serviços de saúde

Experiência do paciente

O emprego da telemedicina não só abrange as limitações geográficas, mas também as econômicas. Isso porque, se mantivermos as práticas atuais do setor de saúde, não será possível oferecermos o mesmo valor.

Vivemos uma crise de sustentabilidade no setor de saúde, em que encontramos pacientes insatisfeitos, empresas que financiam planos de saúdes desesperadas com as contas dos convênios e hospitais enfrentando crises de caixa, acentuadas pela pandemia da COVID-19.

Nesse contexto, um outro campo importante a ser avaliado é o comportamental. De acordo com a American Sociological Association, a esfera do comportamento, no que tange à assistência médica, refere-se aos seguintes eixos:

  • conveniência;
  • disponibilidade;
  • qualidade;
  • tempo.

Se levarmos em conta esses pontos, percebemos que a busca pela melhoria no atendimento deve começar na percepção dos pacientes em relação ao serviço prestado.

Em outras palavras, para trazer mais efetividade a nossa prática, é necessário instigar o paciente ao cuidado médico mesmo que ele ainda esteja saudável. Aqui, inclui-se a prevenção de doenças e a promoção geral da saúde. Para isso precisaremos vencer resistências e quebrar paradigmas.

Muitos pacientes deixam de procurar um serviço de saúde tempestivamente, pois:

  • querem evitar o trânsito;
  • precisam cuidar dos filhos;
  • creem que haverá um tempo de espera significativo 
  • desejam evitar o deslocamento inoportuno.

Considero que a teleconsulta pode também aumentar a procura pelos serviços médicos presenciais. Isso porque, ao receber um encaminhamento de um médico por teleconsulta, um paciente tende a ficar mais inclinado para buscar presencialmente os serviços requisitados pela avaliação remota.

Afinal, em vez de autoavaliar a própria saúde e postergar a procura de um profissional, a recomendação de uma autoridade no assunto, mesmo que feita por telemedicina, pode pressionar o paciente a uma tomada de decisão.

Revistos esses pontos, considero importante abandonarmos o conceito de que a telemedicina deve apenas ser utilizada em situações de difícil acesso físico. Na verdade, com essa prática, a agenda médica tende a ter menos ociosidade, pois os entraves comportamentais dos pacientes serão reduzidos.

Além disso, uma maior resolubilidade unida a uma experiência aprimorada agrega valor aos clientes e, consequentemente, ao preço das consultas.

5 plataformas de telemedicina: vantagens e desvantagens

A telemedicina tem crescido e operado como grande aliada para a saúde no Brasil, principalmente em virtude da pandemia de Covid-19. A partir disso, várias plataformas de teleconsultas surgiram para potencializar a expansão dessa modalidade.

O Saúde Digital Ecossistema realizou uma avaliação dos principais sistemas da telemedicina disponíveis atualmente para informar você, médico. 

1. iClinic

É uma plataforma mais direta, oferecendo as principais ferramentas que um médico precisa em seu dia a dia de prática da telemedicina. O iClinic é recomendado para quem deseja otimizar o tempo. Oferece praticidade no preenchimento de documentos durante as consultas e inovações no campo administrativo.

É, portanto, indicada principalmente para consultórios e clínicas de pequeno e médio porte. No entanto, não deixa de ser viável e interessante também para negócios maiores.

2- iMedicina

O iMedicina possui diversas vantagens na organização de rotina, gestão e marketing digital. A maioria das ferramentas é disponibilizada gratuitamente.

A plataforma é integrada a prontuários eletrônicos, disponibiliza informações financeiras e oferece agendas digitais integradas ao Google.

Além disso, no campo do marketing, apresenta vantagens como criação de sites integrados, gestão de mídias no Google Ads, produção de conteúdo para blogs e outras.

3. Conexa

A Conexa possui maior atuação no campo de consultas digitais para colaboradores de empresas com as quais a plataforma tem parcerias.

Além disso, a Conexa também canaliza diretamente a demanda direta de pacientes que buscam por teleconsultas.

4. Amplimed

A Amplimed é uma plataforma voltada mais a processos de gestão administrativa e clínica. Ela tem como pontos fortes um maior detalhamento de protocolos de segurança e várias ferramentas de gerenciamento de negócios.

5. Doctoralia

É uma boa plataforma para captação de novos pacientes. A partir da pesquisa no Google sobre médicos regionais, o paciente consegue localizar nome, endereço, telefone e notas de avaliação do atendimento. Também possui uma plataforma de telemedicina e oferece um espaço para conversas com pacientes que buscam orientação médica. Isso possibilita uma captação de pacientes sem que seja necessário grandes investimentos no setor de marketing.

Todas essas plataformas são recomendadas para uma boa gestão da clínica médica. Cada qual apresenta suas respectivas vantagens e desvantagens. Entretanto todas elas, sem exceção, podem ser muito úteis para o médico na prática da telemedicina. Para garantir melhores resultados, avalie quais funcionalidades são mais críticas para o seu negócio.

Aplicações dos softwares médicos para melhorar os resultados do seu consultório

Além das questões levantadas anteriormente, existem muitos médicos com desejo de expandir seu retorno financeiro. Todavia vale lembrar que a medicina não pode ser mercantilizada — de acordo com a regulamentação do Código de Ética Médica.

Nesse sentido, a telemedicina pode ser implementada para aumentar o lucro do seu consultório desde que mantendo a qualidade do atendimento, a humanização do cuidado e prática baseada na ética médica.

A telemedicina é a prática da medicina a que estamos habituados. A única diferença é o seu exercício por meio de canais de telecomunicação à distância como a internet.

As aplicações da telemedicina são diversas como as teleconsultas, a teleorientação, a teleducação, entre outras. Todas elas podem ser potencializadas por plataformas médicas.

Essas ferramentas podem promover a otimização do trabalho e o aumento do retorno financeiro. Elas podem ser úteis na redução do absenteísmo por exemplo.

Muitos pacientes faltam às consultas por vários motivos cognitivo-comportamentais como esquecimento, cansaço e desânimo. Então, a realização de uma teleconsulta seria uma alternativa viável para evitar a ausência de alguns dos pacientes potencialmente faltantes.

Para isso, alguns sistemas digitais podem ser utilizados para envios de mensagens automáticas para os pacientes. Dessa forma, pelo menos uma das variáveis: o esquecimento, poderia ser contornada.

Essa e outras metodologias de aplicação da telemedicina podem ser de extrema utilidade para aumentar a rentabilidade de consultórios.

A Telemedicina agora e no futuro

A telemedicina nasceu no mesmo período da medicina moderna, entre a primeira metade do século XIX e o começo do século XX. Seu marco inicial se deu pela transmissão de dados eletrocardiográficos por cabos telefônicos. Seu desenvolvimento, porém, só ocorreu na década de 1960, nos contextos militares e aeroespaciais da 2° Guerra Mundial.

A partir de 1970, essa prática alcançou o público em países desenvolvidos, inicialmente pelas mídias telefônicas. Após a popularização da internet na década de 1990, as diversas modalidades da telemedicina foram implementadas no setor público e privado.

Atualmente, ela também é influenciada pela Transformação Digital com a implementação de tecnologias disruptivas, como:

Dispositivos mobile e vestíveis

Sensores conectados com smartphones e smartwatches podem coletar dados sobre a saúde dos pacientes no dia a dia. Há alguns anos, eles já são utilizados no controle glicêmico, humanizando o cuidado ao reduzir agulhadas e prevenir complicações. Outras aplicações se expandem exponencialmente. Com a telemedicina, eles poderão ser integrados ao dia a dia das suas consultas;

Internet das coisas

São sensores conectados à internet, que permitem o acesso, o monitoramento e o controle à distância de equipamentos. As possibilidades da IoT estão sendo testadas em incubadoras, leitos, monitores de sinais vitais, entre outros.

Inteligência artificial

Representam as aplicações diversificadas da inteligência artificial, como teleducação, triagem de pacientes, gestão de saúde, telediagnóstico e o telemonitoramento.

Data science

São grandes volumes de dados gerados pelos metadados de sistemas digitais (dados estruturados) e pelas mídias escritas e audiovisuais (não estruturados) que podem ser filtrados e analisados estatisticamente. Com isso, é possível realizar análises interessantes sobre a saúde populacional a respeito das doenças com maior impacto nos grupos de pacientes e de usuários de serviços.

Essas tecnologias podem ser integradas ao trabalho médico, de maneira a melhorar a gestão e a decisão clínica em contextos de UTIs, saúde pública, acompanhamento de doentes crônicos, entre outros.

videoaulas sobre teleconsultas

Telemedicina: Conclusão

Agora, peço a você para imaginar uma coisa: ninguém em 2019 previa o surgimento de uma pandemia. Os médicos que já experimentavam algum tipo de digitalização ou aqueles menos resistentes às mudanças, com certeza estão mais adaptados e preparados à prática da telemedicina.

Qual é o balanço que você faz da sua conduta em relação à telemedicina após 12 meses de vigência desta modalidade?

A tecnologia exige esse estado de preparedness, — de prontidão. Se você está antenado nas tendências e tem a fluência necessária para avaliá-las criticamente, poderá implementá-las antes que se tornem mainstream, — comuns, populares.

Assim, você terá uma vantagem competitiva e ficará mais adaptado para reagir à próxima crise, cada vez mais comum em um mundo instável e imprevisível.

Depois desses dizeres, o que recomendo é: não perca tempo! Comece o processo de implementação da telemedicina no seu consultório o quanto antes. Aproveite também para investir seu tempo adquirindo fluência digital, de forma que possa navegar tranquilamente pela medicina cada vez mais baseada em bits e bytes. 

E mesmo que enfrente águas turbulentas, você não perderá o brilho nos olhos de exercer uma profissão que tem como propósito cuidar do maior patrimônio do ser humano: a vida!

Este privilégio nenhuma máquina pode tirar de você, a menos que permita. 

Avante, colega!

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