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Impactos Do Cuidado Híbrido Na Era Da Saúde Digital

Por Dra. Ana Claudia Pinto e Antonio Valerio Netto

Ana Claudia é médica e Ph.D. em medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP) e Valério é professor visitante no Departamento de Informática em Saúde da EPM/UNIFESP.

“Estamos em um momento único na história da Medicina, com a convergência de genômica, biossensores, registro eletrônico de pacientes e aplicativos de smartphone, ligados a uma infraestrutura digital, com inteligência artificial para dar sentido à enorme quantidade de dados criados”. Essa afirmação de Eric Topol, médico e fundador do Scripps Research Translational Institute nunca foi tão verdadeira. No entanto, estamos ainda a caminho dessa realidade, reinventando a saúde para torná-la sustentável. 

Um dos maiores desafios para sustentabilidade em saúde é cumprir o Triple Aim do Institute for Healthcare Improvement. Trata-se de uma abordagem sugerida para otimizar o desempenho dos sistemas de saúde e preconiza que as iniciativas em saúde devem buscar simultaneamente três dimensões: melhorar a experiência de atendimento do paciente (incluindo qualidade e satisfação), melhorar a saúde das populações, e por fim, reduzir o custo per capita dos cuidados com saúde.

Tem sido um desafio para os sistemas de saúde alcançar esse resultado. A Atenção Primária em Saúde (APS) está em foco, por meio do atendimento das populações de modo preventivo, integrado e contínuo, com o objetivo de garantir a sustentabilidade do sistema. Por outro lado, a medicina personalizada vem ganhando força e novas tecnologias para gestão de saúde populacional certamente irão modificar a relação médico/paciente. Nesse contexto, observamos a ascensão da Medicina 4P – Preventiva, Preditiva, Personalizada e Participativa.

Seja qual for o cenário, APS ou Medicina 4P, o fator comum é a enorme e crescente quantidade de dados que essas populações estão produzindo. Os dados estão vindo de inúmeras fontes como biossensores, registro eletrônico de pacientes, IoT, aplicativos de smartphone e outras. Desta forma, fica claro que os sistemas de saúde precisam reinventar sua relação com seus pacientes, o que inclui levar em consideração a quantidade crescente de dados que eles produzem, além de envolvê-los em seu próprio monitoramento e cuidado. 

As tecnologias digitais estão modificando drasticamente o setor de saúde, oferecendo serviços cada vez mais centrados no paciente e com custos cada vez mais acessíveis. O conceito de cuidado híbrido aparece como ponto chave de conexão entre o cuidado digital e a equipe de saúde, mantendo o paciente no centro do cuidado e atuando como extensão do atendimento físico. Neste caso, um é complementar ao outro, não importando a proporção do uso de cada um, no processo de cuidado do indivíduo assistido.

Impactos Do Cuidado Híbrido Na Era Da Saúde Digital – Como fica a gestão de saúde populacional nesse novo contexto?

Nesse cenário fica evidente que a quantidade de dados vai aumentar de forma exponencial, e que poderemos usar a tecnologia e a inteligência artificial como fortes aliados na captação, interpretação e como braço executor para o cuidado híbrido dessas populações. 

Para escalarmos o acesso aos cuidados de saúde, a tecnologia como ferramental, pode ser uma aliada importante para ajudar o paciente a lidar com as necessidades simples de seus cuidados, dando mais autonomia, principalmente onde não ofereçam risco. Essas ferramentas podem ser uma porta de entrada para hierarquizar e escalar à equipe de saúde e, por fim ao médico, o que não pôde ser resolvido nas etapas anteriores.

O conceito de gestão de saúde populacional envolve a coordenação de todos os diferentes serviços e profissionais que assistem o paciente – médicos, enfermeiros, farmacêuticos, clínicas, hospitais, organizações comunitárias, técnicas de mudança de comportamento etc. Não podemos mais pensar a saúde coordenada sem o cuidado híbrido e a inclusão de ferramentas tecnológicas disponíveis. Isso facilitará as interações dos pacientes com o sistema de saúde e melhorará os desfechos em saúde.

Mas como tratar o fluxo de dados envolvendo o paciente?

Nem todas as informações precisam chegar ao médico, muito menos em tempo real. Há protocolos que começam com o paciente, passam pelo enfermeiro, e dependendo da complexidade, chegarão ao médico. O desafio está em definir quais dados podem ser agrupados em um relatório que pode ser gerado a cada período de tempo, e quais justificariam uma atenção imediata da equipe de saúde. 

A decisão é clínica e não técnica, e não pode ser baseada apenas na facilidade em transmitir o dado, pois geraria aumento desnecessário do fluxo de informações, e consequente confusão na necessidade de intervenção. É preciso hierarquizar o cuidado:

  • Primeiro, definir quais cuidados podem ser realizados em um primeiro nível, pelo paciente, talvez com algum suporte automatizado;
  • O segundo nível pode ser tratado pela equipe de saúde, como, por exemplo, avaliação do valor da pressão arterial ou da glicemia capilar medida pelo paciente naquele momento; 
  • O que não for resolvido pelos níveis anteriores seria encaminhado ao médico.

A comunicação adequada é a chave. As informações de saúde não são simples de serem interpretadas pelo paciente. A comunicação clara é essencial para capacitar os pacientes. Isso impõe a necessidade de fornecer informações de uma maneira simples e fácil de entender, e que forneçam orientações sobre como utilizá-las na prática, ou seja, o que fazer com elas quando são coletadas.

Impactos Do Cuidado Híbrido Na Era Da Saúde Digital – Como envolver os pacientes em seu próprio cuidado?

Além de fornecer feedback e educação, é preciso tornar mais lúdico o cuidado com a saúde. Mas, a novidade, além da eficácia, pode desaparecer rapidamente. Portanto, os incentivos são importantes. As redes sociais dos pacientes podem ser uma ferramenta de engajamento eficaz. Muitos pacientes têm pelo menos um amigo ou membro da família que estaria disposto a ajudá-los a melhorar sua saúde e apoiá-los em seus objetivos. Além disso, mudar o contexto das rotinas dos pacientes, propiciando escolhas mais automáticas, baseadas em neurociência, podem ajudar neste processo. 

Importante: Foco na experiência do usuário!

Pesquisa da PwC – Global Consumer Insights Survey 2019 – confirma que os consumidores estão cada vez mais dispostos a se envolver em atividades não tradicionais online. Essa tendência é especialmente notável nos serviços de saúde, onde quase dois terços da nossa amostra global disseram que estão dispostos a acessar serviços por meio de empresas que não são normalmente associadas à saúde, como Amazon, Apple e Facebook. 

A mistura entre elementos físicos e humanos com interações digitais pode resultar em melhores experiências para o usuário, especialmente em situações onde há necessidade de explicação ou personalização. As empresas podem criar oportunidades, aumentando a interação da pessoa com o conteúdo digital, antes, durante e depois de uma interação presencial. Por fim, projetar essas experiências combinadas é uma das maiores oportunidades para impulsionar o retorno sobre a experiência do usuário! 

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