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A Pandemia veio nos mostrar que muitas das crenças médicas a respeito do mundo digital estavam erradas. Ao contrário do que muitos colegas previram, a telessaúde não se tornou uma tendência passageira ou um meio de comunicação excludente. Pelo contrário, trouxe uma ampliação significativa do acesso à saúde e permitiu um avanço inédito das redes assistenciais.

Por esse motivo, não temos dúvidas que a telessaúde veio para ficar. Quer entender melhor por que acreditamos nisso? Acompanhe!

Redução das visitas desnecessárias a pronto-atendimentos pela telessaúde

A rede de urgência e emergência sempre sofreu com uma sobrecarga expressiva. Afinal, os pacientes ainda não entendem bem quando devem ir a um serviço de atenção primária ou a um um pronto-socorro.

Por isso, a maior parte dos planos de saúde atualmente oferecem centros de saúde virtual com videoconsultas 24 horas por dia, 7 dias por semana. Assim, os pacientes podem receber uma avaliação direcionada para a identificação de sinais e sintomas graves e ser orientados se a visita imediata a um pronto-socorro é realmente necessária naquele momento.

No entanto, a visita de um paciente não-grave geralmente implica o atraso no atendimento de um paciente grave. As evidências mostram que a teletriagem não traz prejuízos à saúde das pessoas, pois a anamnese e o exame físico virtual geralmente são necessários para a avaliação de gravidade.

Em alguns casos, é elaborado um plano de telemonitoramento, no qual uma equipe entra em contato com o paciente periodicamente para verificar seu estado de saúde. Caso não haja resposta, unidades de assistência móveis são encaminhadas para a residência cadastrada. 

Telessaúde na otimização do cuidado aos doentes crônicos

O acompanhamento de doentes crônicos é um dos grandes desafios da medicina! Por exemplo, as estatísticas mostram que até 50% dos hipertensos estão com a doença fora de controle, — mesmo quando estão em acompanhamento médico. Isso leva ao aumento de risco de doenças com uma grande carga sobre o sistema de saúde e elevadíssimo impacto na morbimortalidade e na qualidade de vida dos pacientes.

Programas online de controle de crônicos têm atingido uma taxa de controle superior a 90%, como indica este artigo na Harvard Business Review. Por que os resultados são tão promissores?

O modelo tradicional de manejo de crônicos é intermitente e/ou episódico. Depois do controle inicial, os pacientes realizam consulta apenas em intervalos de 4 meses a 1 ano. Nesse período, o médico não sabe como está a adesão do paciente, a menos que ele tenha um episódio de descompensação sintomática.

Com a telessaúde, podemos instituir um modelo de cuidado contínuo. Com aplicativos, o paciente pode registrar diariamente informações da sua saúde, os quais são revisados pelos médicos durante as consultas.

No intervalo entre as consultas, o paciente pode ainda passar por ações de teleorientação, teleducação e telemonitoramento por profissionais multidisciplinares. Desse modo, o paciente é incentivado a um cuidado contínuo e integral. 

Para reforçar a relação do médico com o paciente, ele pode passar por consultas mais breves ou enviar dúvidas em chats, por exemplo. O impacto positivo sobre o sistema de saúde é enorme: o manejo de hipertensos, por exemplo, poderia levar a uma redução de até 40% dos acidentes vasculares cerebrais, trazendo uma economia de mais de US$ 6,9 bilhões anualmente.

Equidade ao acesso e telemedicina

A telessaúde também tem um papel muito relevante em promover uma maior equidade dentro dos sistemas de saúde, — públicos e privados. Ela pode atuar em diferentes pontos:

  • gênero — muitas mulheres passam por jornadas duplas de trabalho e isso pode dificultar a ida às consultas presenciais. Muitas delas têm filhos e ainda podem enfrentar dificuldades para encontrar alguém para cuidar de seus filhos. Assim, elas se beneficiam das teleconsultas, pois podem realizá-las em casa;
  • região — o Brasil é um país com dimensões continentais e a distribuição de médicos não é uniforme. Eles estão concentrados em capitais da região Sul e Sudeste. A telemedicina pode levar acesso a especialistas até localidades mais remotas;
  •  financeiras — a remuneração do médico não é o único gasto que uma pessoa tem ao frequentar consultas presenciais. Há também os custos com transporte e alimentação, por exemplo. Além disso, muitas pessoas têm receio em faltar ao trabalho para cuidar da própria saúde. A oferta de consultas virtuais reduz o tempo e os gastos com deslocamento.

Isso também tem um impacto muito positivo sobre as taxas de absenteísmo, que podem atingir patamares inferiores a 10%-20%. Consequentemente, há uma maior engajamento com os cuidados em saúde, o que se reflete em menores custos com internações devido a quadros clínicos mais graves. Por exemplo, no programa da Kaiser Permanante com teleconsultas neonatais pós-parto, eles obtiveram uma redução das admissões, que custavam mais de $100.000 dólares ou mais por criança.

Maior eficiência e agilidade na assistência

Falar em agilidade é um tabu na medicina, pois rapidamente o associamos com consultas rápidas e uma redução da qualidade do cuidado. No entanto, a telemedicina não é mais ágil porque traz consultas mais rápidas. Ela otimiza as ineficiências do pré e pós-consulta, além de facilitar algumas tarefas “mecânicas” dentro das consultas.

Por exemplo, como as pessoas têm menor chance de se atrasar devido a problemas de trânsito, as consultas costumam ser mais pontuais. Também, na telemedicina, o médico não usa papel e caneta, mas prontuários eletrônicos. Além do fato de digitar ser mais ágil, esses sistemas contam com o preenchimento automático de diversos campos, tornando o processo de registro mais produtivo;

A telemedicina pode ser acompanhada de ações de teletriagem e de atenção primária.  Por exemplo, antes de se consultar com um médico, o paciente passa por uma triagem que avalia a complexidade do seu caso. Em hospitais, isso permite que ele seja encaminhado para uma especialidade correta, reduzindo o tempo de fila para os especialistas mais demandados.

Antes de ser direcionado para um especialista em um consultório físico, ele ainda pode passar por uma teleconsulta especializada. As estatísticas mostram que até 40% dos casos podem ser resolvidos com esse tipo de assistência sem necessidade de uma consulta presencial. Isso não traz um impacto negativo sobre a percepção do paciente, as taxas de satisfação são maiores ou equiparáveis aos dos atendimentos tradicionais.

Por tudo isso, é impossível que a telessaúde seja uma tendência passageira. Ela veio para ficar, — os pacientes querem isso, as evidências suportam a sua utilização em vários contextos e os médicos também têm sentido uma melhora na própria qualidade de vida com esses atendimentos.

Autores:

Lorenzo Tomé, médico, host do podcast Saúde Digital. CEO do Saúde Digital Ecossistema.

Ricardo Tadeu de Carvalho, médico, especializado em produção de conteúdo para a área da saúde. Colunista no Saúde Digital Ecossistema. CEO do RT Marketing Médico.